DOMINICK
Aquela mulher não saía da sua mente.
Dominick Santorini nunca se deixava afetar por rostos bonitos. Havia tido todas as mulheres que quis — modelos, executivas, esposas infiéis, até mesmo filhas de rivais. Nenhuma delas deixara qualquer marca além do perfume desbotado em seus lençóis. Mas Laura...
Ela era diferente.
Sua presença era como um sussurro constante, provocante e inquietante. Dominick ainda podia sentir a leveza da pele dela sob seus dedos, o tremor em seu corpo quando a tocou após o ataque. Vulnerável. Linda. Inocente demais para o mundo em que ele vivia.
E ainda assim, ele a queria.
— Desde quando você se interessa por meninas que parecem fugir de boates, não correr para elas? — provocou Henrique, encostado no parapeito de vidro da área VIP.
— Desde ontem.
Henrique ergueu uma sobrancelha.
— Isso soa como problema.
— Talvez eu queira um problema.
O sócio gargalhou, descrente.
— Está brincando com fogo. Ela não é dessas que você j**a fora no dia seguinte.
Dominick não respondeu. Sabia que Henrique tinha razão. Mas havia algo na fragilidade de Laura que o fazia sentir... algo. E ele odiava isso.
Odiava querer cuidar.
Dominick desceu para o térreo. A boate ainda vibrava em luzes e batidas, mas seus olhos estavam fixos em um só ponto: o balcão do bar. Laura estava ali, sozinha. Cristina havia ido ao banheiro. Ela olhava para o copo com um ar distraído, alheia ao caos ao redor.
Ele se aproximou.
— Ainda tomando champanhe como uma rebelde?
Ela olhou para ele e sorriu, tímida. Aquilo o desarmou mais do que qualquer arma já apontada contra ele.
— É o mais longe da rebeldia que consigo chegar — respondeu.
— Você não é daqui — afirmou ele, puxando uma cadeira ao lado.
— De longe — disse. — Vim para comemorar minha aprovação na faculdade.
— E acabou quase sendo sufocada por um idiota.
Ela desviou o olhar, desconfortável. Dominick percebeu o erro.
— Me desculpe. Não queria reabrir a ferida.
— Está tudo bem. Foi só... assustador. Mas passou.
Dominick observou cada movimento dela. Cada gesto. O modo como mordia o lábio inferior. O jeito que segurava o copo com as duas mãos, como se precisasse se proteger. Ela era uma tela em branco no meio de seu mundo manchado de sangue.
— Não costuma sair à noite, certo?
— Como sabe?
— Porque está desconfortável. Mas está tentando.
Ela riu. Um som leve, diferente de tudo que ele já ouvira naquela boate.
— Acho que você me entende melhor do que eu esperava.
Ele se aproximou um pouco mais.
— E acho que você não faz ideia de quem eu sou.
Ela piscou.
— E isso é ruim?
— Pode ser... se você quiser segurança.
Laura o encarou. Pela primeira vez, havia firmeza em seus olhos.
— Talvez eu esteja cansada de me sentir segura.
Dominick sentiu o sangue aquecer.
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LAURA
Ela não sabia o que estava fazendo. Ou por que ainda estava ali.
Cristina já havia dito que ia embora e oferecido carona. Laura recusou. Disse que queria ficar mais um pouco, mas a verdade era outra: ela queria ficar com ele.
Dominick era perigoso. Isso era óbvio. Seus olhos tinham um peso sombrio, seu corpo carregava tensão como se estivesse sempre pronto para lutar. Mas também havia algo de protetor, silencioso, intenso.
Ela não conseguia se afastar.
— Gosta de carros? — ele perguntou, do nada.
— Não muito. Só sei dirigir o básico.
— Vamos dar uma volta?
Laura o encarou, surpresa. O coração disparou.
— Agora?
— Agora.
Ela hesitou por um instante, mas algo nela — um impulso novo, quase proibido — a fez aceitar.
Do lado de fora, o ar da madrugada era fresco. A cidade ainda pulsava, mas o mundo parecia mais calmo. Dominick a guiou até um carro preto estacionado discretamente em uma rua lateral. Um Maserati Levante.
Laura engoliu em seco.
— Isso... é seu?
— É uma das minhas distrações caras — respondeu ele com um meio sorriso.
Entraram no veículo. O interior cheirava a couro e poder. O som do motor foi um rugido suave. E então, a cidade começou a sumir atrás deles.
Dirigiram em silêncio por longos minutos. A estrada parecia levá-los para fora do mundo. Laura olhava pela janela, até que o carro parou em um mirante.
Milão aos pés deles. Uma tapeçaria de luzes douradas sob o céu escuro.
— Eu venho aqui quando preciso lembrar quem eu sou — disse ele, desligando o motor.
— E quem é você, Dominick?
Ele olhou para ela com um sorriso amargo.
— A última pessoa com quem você deveria estar agora.
— E mesmo assim... estou.
Ele se virou completamente, olhando nos olhos dela.
— Por quê?
Laura não respondeu. Em vez disso, estendeu a mão e tocou a dele. Um gesto simples, mas carregado de tensão. Dominick segurou sua mão de volta, com força. Como se aquilo significasse algo mais do que um toque.
Os olhos dele desceram até os lábios dela.
— Me diz para parar.
Ela mordeu o lábio.
— Eu não quero que pare.
Dominick a puxou com força. Os lábios dele tomaram os dela com intensidade. Um beijo profundo, possessivo, como se a marcasse com a própria essência. Laura gemeu, surpresa com o calor que a invadiu. As mãos dele seguravam sua cintura com firmeza. A barba por fazer arranhava sua pele. O cheiro de cigarro e desejo a envolvia.
Foi arrebatador.
Quando se afastaram, estavam ofegantes.
— Eu deveria te deixar em casa agora — ele murmurou, passando o polegar pelos lábios dela.
— Mas não vai.
Ele a encarou.
— Não.
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DOMINICK
Naquela noite, Dominick não dormiu.
Laura dormia no banco do passageiro, após se recusar a deixá-lo sozinho no mirante. Ele a observava, os cabelos bagunçados, os lábios ainda vermelhos, as marcas de sua presença estampadas nela.
E pela primeira vez em muito tempo, ele não sentia vontade de usá-la e descartar. Ele queria mais.
Mas sabia que o mundo dele era cruel. E ela, pura demais.
Pegou o celular e ligou para Henrique.
— Está acordado?
— Sempre estou quando você liga depois da meia-noite. Aconteceu algo?
Dominick ficou em silêncio por um instante.
— Ela não é como as outras.
— Merda... você se apaixonou?
Dominick não respondeu.
Henrique praguejou do outro lado.
— Isso é perigoso, Nick.
— Eu sei.
— E vai fazer o quê?
Dominick olhou para Laura mais uma vez.
— Eu vou protegê-la. Mesmo que ela nunca saiba de que monstro eu a estou salvando.