CAPÍTULO 6 – NÊMESIS

(Parte 1 – A Semente da Ruína)

GENEBRA – SUÍTE SANTORINI – 02h17

A porta se abriu com violência. O cheiro de chuva e sangue invadiu o ambiente luxuoso. Stepanov cambaleou, coberto de hematomas, um corte aberto na sobrancelha e a respiração falha. Mikhail correu para segurá-lo.

— Fechar o perímetro! — gritou Leonardo, já empunhando sua arma.

— Ele me seguiu… até a fronteira… — balbuciou Stepanov, estendendo o braço.

Em sua mão, o pen drive.

Ravena o tomou imediatamente, entregando a Leonardo. O herdeiro Santorini olhou para aquele pequeno objeto com a expressão de quem encara um artefato nuclear. Porque era exatamente isso. Nêmesis não era uma ameaça — era o recomeço de um inferno.

— Estávamos certos — disse Ravena, ativando o computador de segurança. — Aqui dentro estão registros de um laboratório móvel, testes genéticos, e a localização de algo chamado “Silo Alfa”. Fica na fronteira da Ucrânia.

Leonardo permaneceu em silêncio. O silêncio dele era um prenúncio de tempestade.

— Ele criou uma arma biológica baseada no próprio sangue — completou Stepanov. — E não é apenas para destruir… é para substituir.

— Substituir o quê? — perguntou Mikhail.

— A linhagem. O império. Rael quer apagar a história e criar uma nova geração de soldados genéticos, leais apenas a ele.

Leonardo girou lentamente o pen drive nos dedos.

— Então ele não quer apenas vencer… quer tornar a derrota impossível.

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UCRÂNIA – SUBTERRÂNEO DO SILO ALFA – 05h12

Rael caminhava entre as cápsulas criogênicas. O ambiente era gélido, metálico. Ao seu lado, a Dra. Ilona Khrebet, cientista desertora de Praga, responsável pelo avanço de Nêmesis.

— Sete protótipos estão prontos. Três apresentam instabilidade, mas os demais são promissores.

Rael observou o interior das cápsulas. Corpos jovens. Sem expressão. Sem passado.

— E se um deles despertar com vontade própria?

— Isso não acontecerá. São programados para obedecer.

Rael passou a mão pelo vidro de uma das cápsulas.

— Eu não quero apenas obediência. Eu quero fé. Lealdade cega. Amor incondicional pelo meu nome.

Ilona hesitou.

— Isso… nenhum código genético pode garantir.

Rael a encarou.

— Então crie um que possa. Ou será a primeira a servir de base para o próximo protótipo.

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GENEBRA – SALA DE GUERRA – 06h45

Leonardo reuniu seus aliados ao redor da mesa digital. Matteo, Ravena, Mikhail, Stepanov e agora Alys — que fora convocada às pressas.

— O Projeto Nêmesis é a verdadeira herança de Giuliano — começou Leonardo. — Rael herdou o veneno e o aperfeiçoou.

Ele tocou a tela. Imagens do laboratório, as cápsulas, os testes genéticos.

— Se isso for ativado, ele não precisará mais de aliados. Nem soldados. Nem conselhos. Ele poderá substituir qualquer um. Inclusive… a mim.

— Isso é insanidade — disse Matteo.

— Isso é o futuro que ele está moldando.

Alys cruzou os braços.

— E o que você pretende fazer?

Leonardo olhou para todos, então anunciou:

— Vamos destruir o Silo Alfa. Com tudo dentro.

O choque percorreu a sala.

— E os inocentes? Os cientistas? — questionou Mikhail.

— Se estão lá, não são inocentes.

— E se falharmos?

— Não vamos falhar.

Ravena sorriu, pela primeira vez com respeito genuíno.

— Agora sim, você soa como Dominick.

Leonardo a encarou.

— Eu não sou Dominick. Eu sou o fim do que ele começou.

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LISBOA – SEDE SECRETA DA VELHA GUARDIÃ – 10h28

Em uma sala escura cheia de símbolos antigos e vitrais negros, um homem idoso observava os movimentos globais pelo telão. Era conhecido apenas como O Cardeal. Um dos últimos juízes silenciosos do submundo.

— O equilíbrio está quebrado — disse ele à figura encapuzada diante dele. — Rael Vasquez quebrou o pacto ao manipular o sangue. Leonardo Santorini ameaça o equilíbrio ao tocar o sagrado fogo da destruição.

A figura ergueu o rosto. Era uma mulher com o rosto tatuado de runas.

— E o que sugere?

— Um intermediador. Um ceifador. Alguém que os lembre de que acima do sangue… há o juízo.

A mulher se curvou.

— Quer que eu intervenha?

— Quero que você escolha quem deve morrer primeiro.

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GENEBRA – VARANDA DA SUÍTE – 13h20

Leonardo olhava o céu quando Ravena se aproximou.

— Está mais calmo do que deveria.

— A calma não é ausência de guerra. É o momento em que decidimos não nos render.

Ela encostou-se ao parapeito ao lado dele.

— Matar Rael pode não ser o fim disso.

— Eu sei.

— E destruir Nêmesis pode ser tarde demais.

— Também sei.

— Então por que continuar?

Leonardo virou-se para ela, e pela primeira vez, seus olhos estavam carregados de algo que não era ódio — era propósito.

— Porque se eu desistir… o mundo herda monstros.

FRONTEIRA UCRANIANA – 22h12

O comboio Santorini atravessou os trilhos abandonados, envolto pela névoa da floresta morta. Cada veículo era blindado, com placas falsas, e carregava armamentos pesados, explosivos de precisão e tecnologia de interferência. Leonardo, à frente, usava colete tático, máscara de identificação térmica e fones conectados ao comando de ataque.

— Confirmado. Dois minutos até entrada no Silo — informou Matteo pela linha.

— Silêncio total após a entrada — respondeu Leonardo. — Se alguém hesitar, será deixado para trás.

Ravena, no carro ao lado, afiava a lâmina curva com expressão serena. Mikhail revisava os códigos de desativação enquanto Alys mantinha os olhos fixos em um antigo terço de prata — sua última memória da infância roubada.

— Esse lugar fede a inferno — disse ela, olhando pela janela.

— Porque foi criado lá — respondeu Leonardo.

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SILO ALFA – CAMADA EXTERNA – 22h32

A entrada era subterrânea, camuflada por pedras e vegetação artificial. Bastaram três cargas para abrir caminho. Assim que os portões cederam, uma onda de ar frio e metálico invadiu o ambiente.

O grupo entrou. A escuridão era cortada apenas por lanternas presas aos capacetes. As paredes estavam cobertas de símbolos de código genético, dados e avisos em cirílico.

— Ravena, flanco esquerdo. Matteo e Ilan, corredor central. Eu, Alys e Mikhail descemos para o núcleo — ordenou Leonardo.

Ao avançarem, encontraram cápsulas vazias.

— Onde estão os corpos? — murmurou Mikhail.

— Eles sabiam que viríamos — disse Alys.

Ravena acionou o comunicador:

— Temos movimento térmico. Sete assinaturas. Mas não são normais… estão acima da média humana.

— Protótipos — murmurou Leonardo.

De repente, o rádio explodiu em ruídos e gritos.

— ILAN FOI ATINGID...!

Silêncio.

Matteo gritou do outro lado:

— Eles estão nos cercando! Não são humanos! Movimentam-se como sombras!

Leonardo apertou os olhos.

— Plano B. Explosivos no núcleo. Retirada em cinco minutos!

SILO ALFA – NÚCLEO BIOTÉRMICO – 22h46

Eles chegaram ao centro. Um cilindro blindado com líquidos escuros, pulsando com luzes vermelhas. Dentro, não havia apenas corpos… mas clones despertos. Olhos abertos. Respirando. Crescendo.

— Eles estão ativos! — alertou Alys.

— Então morrem agora.

Leonardo puxou o detonador e posicionou as cargas. Mas antes que apertasse o botão, uma figura surgiu do alto da câmara.

Rael.

Vestido de preto, olhos em brasa, acompanhado de dois protótipos armados com lâminas curvas.

— Olá, irmão.

Leonardo não vacilou.

— Eu não sou seu irmão.

— Mas somos filhos do mesmo monstro. E agora… eu sou o que restou dele.

Rael desceu com passos suaves, mas sua presença era um terremoto.

— Você matou Ilan? — perguntou Leonardo.

— Não. Eles mataram. Os que vocês chamam de aberrações. Mas eu os chamo de herdeiros.

Leonardo apertou o botão.

Nada aconteceu.

Rael ergueu um chip na mão.

— Sabia que viria. Desativei o protocolo. O Silo é meu agora.

Ravena e Matteo surgiram pelos flancos, mas foram imediatamente atacados pelos protótipos. O combate foi brutal. Lâminas contra balas. Sangue contra ciência.

Mikhail tentou reativar o sistema, mas uma descarga elétrica o jogou contra a parede. Alys foi ferida no ombro, mas conseguiu lançar uma granada de fumaça.

— Recuar! — gritou Leonardo.

Eles saíram em chamas e escombros. Não havia vitória ali. Apenas sobrevivência.

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EXTERIOR DO SILO – 23h02

Os sobreviventes correram até os veículos. Matteo sangrava. Ravena tinha um corte profundo no rosto. Mikhail desacordado. Alys em choque.

Leonardo olhou para o horizonte enquanto os alarmes ainda soavam.

— Perdemos a chance de destruir Nêmesis — murmurou Ravena.

— Ainda não — respondeu ele. — Mas agora sabemos quem Rael realmente é.

Ela o encarou.

— E o que ele quer?

Leonardo entrou no carro, encharcado de sangue e fumaça.

— Ele não quer matar o passado. Quer se tornar um deus.

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