BRUXELAS – CENTRO DE INTELIGÊNCIA EUROPEU – 08h30
As telas de segurança estavam cheias de imagens: a explosão parcial do Silo Alfa, a movimentação de tropas sem bandeiras no leste europeu, interceptações de vozes codificadas. No centro da sala de comando, a comissária Lúcia Vernet assistia a tudo com a mandíbula travada.
— Confirmado: Rael Vasquez possui um exército de clones aprimorados geneticamente — disse um analista. — E agora tem acesso a tecnologia bélica da Coreia do Norte e criptografia da Nova África.
— E Leonardo Santorini? — perguntou Lúcia.
— Ele tentou neutralizar o projeto. Mas falhou.
Ela virou-se para os membros do conselho internacional reunidos virtualmente.
— Não estamos lidando mais com um mafioso. Estamos diante do nascimento de um império paramilitar genético. Um império sem leis.
Um dos representantes protestou:
— Mas não temos provas diretas. As fontes são do submundo.
— O submundo está governando o mundo — ela rebateu.
E então concluiu:
— Se Leonardo cair, Rael se tornará intocável.
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GENEBRA – MANSÃO SANTORINI – 11h48
O clima era de luto. Matteo estava internado com hemorragia interna. Alys, sob sedativos. Ravena costurava o próprio rosto com whisky e linha cirúrgica. Mikhail acordava lentamente, com dores na coluna.
Leonardo entrou na sala, calado, com um mapa nas mãos. Espalhou os documentos sobre a mesa.
— Ele está avançando pelo leste. Usando os portos abandonados como base. Reativou o anel negro de Giuliano.
— O que é o anel negro? — perguntou Ravena.
— Uma rede antiga de armazéns, túneis, rotas fantasmas que conectam 12 países. Infiltrada nos próprios governos. Giuliano a criou para escapar da Interpol. Rael está reconstruindo isso… com soldados que não dormem.
— Precisamos de reforço — disse Mikhail, com dificuldade. — Odessa, Beirute, Marselha…
— Não — interrompeu Leonardo. — Precisamos de uma sombra maior que a dele.
Ele pegou um envelope selado com cera dourada. O símbolo? Uma flor de lótus com uma caveira.
— Vamos convocar Os Três Silenciosos.
Ravena congelou.
— Você está louco.
— Eles odeiam Vasquez.
— Eles odeiam todo mundo.
— E é exatamente isso que precisamos agora.
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BERLIM – CASA DOS TRÊS SILENCIOSOS – 19h03
O local parecia um monastério abandonado. Mas atrás das paredes, três figuras mascaradas receberam o convite.
Um homem com cicatrizes nas mãos.
Uma mulher cega com audição perfeita.
E um ancião que nunca falou — apenas matava.
— Leonardo Santorini convoca a Aliança Negra — disse o portador.
O homem com cicatrizes se levantou.
— Quem ele quer morto?
— Rael Vasquez.
A mulher cega cheirou o papel.
— Cheira a sangue novo.
O ancião apenas assentiu.
A guerra silenciosa acabava de ganhar sua lâmina.
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GENEBRA – QUARTO DE ALYS – 21h22
Alys despertou com a sensação de estar sendo observada. Ao virar o rosto, viu alguém à sombra — Stepanov.
— O que você quer?
Ele fechou a porta atrás de si, lentamente.
— Vim saber se ainda está do nosso lado.
— Claro que estou. Você me salvou.
Ele se aproximou.
— Leonardo vai morrer se continuar sozinho. Está se tornando uma bomba que explode para todos os lados. Dominick fazia isso. E afundou.
— O que está sugerindo?
Stepanov tirou um chip do bolso.
— Este é o protocolo final. O último vírus de Giuliano. Se inserido na rede de Rael, pode destruir tudo. Mas também pode matar Leonardo.
Alys o encarou, furiosa.
— Isso é traição.
— Isso é prevenção.
— Eu não entregarei esse chip.
Ele se aproximou do leito, mais ameaçador agora.
— Você não tem escolha.
Mas antes que pudesse tocá-la, Ravena invadiu o quarto com uma arma em punho.
— Diga boa noite, traidor.
Stepanov tentou fugir, mas Leonardo já o esperava do lado de fora.
Dois tiros.
Silêncio.
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CEMITÉRIO DE GENEBRA – 02h10
Leonardo olhava a cova aberta. Stepanov estava sendo enterrado sem nome, sem cerimônia, sem perdão.
Ravena se aproximou, coberta por um sobretudo negro.
— O que fará agora?
— Vamos lançar o vírus.
— Mesmo com o risco de matar inocentes?
— O mundo deixou de ser inocente no dia que permitiu Giuliano nascer.
Ela tocou o ombro dele.
— Está pronto para ser odiado?
— Estou pronto para vencê-lo.
BASE SUBTERRÂNEA – LOCALIZAÇÃO CONFIDENCIAL – 04h48
A sala era envolta em escuridão total. Somente um terminal luminoso destacava-se no centro, conectado diretamente à rede neural que alimentava a estrutura digital de Rael. Leonardo digitava códigos, um após o outro, com precisão cirúrgica. Ao seu lado, Mikhail vigiava o perímetro. Ravena estava armada até os dentes.
— Tem certeza disso? — perguntou ela.
— O vírus de Giuliano vai contaminar a malha de Nêmesis, apagando memórias, reconfigurando ordens. E se funcionar… Rael perderá o controle dos protótipos — explicou Leonardo. — Mas se falhar… eles se voltarão contra tudo.
— Incluindo nós.
Leonardo inseriu o chip.
— Que assim seja.
A tela piscou. Um símbolo antigo surgiu: o brasão da linhagem Vasquez sendo devorado por uma serpente invertida.
UPLOAD INICIADO.
Contagem regressiva: 60… 59… 58…
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SILO BETA – ROMÊNIA – 05h00
Rael caminhava pelos corredores iluminados em azul. Os clones estavam todos em treinamento. Sem emoção. Sem questionamentos. Ele assistia com orgulho.
— Em breve, não existirão mais famílias. Apenas uma linhagem: a minha — murmurou.
Mas então, as luzes piscaram. Os alarmes tocaram. As cápsulas começaram a liberar fumaça preta.
— O que está acontecendo?! — gritou.
A Dra. Ilona correu até o painel.
— Um vírus! Invadiram a malha cerebral. Os protótipos estão entrando em modo de erro.
— Reinicie!
— Não é possível! Eles estão… entrando em loop!
Um dos protótipos começou a gritar. Outro caiu em convulsão. Um terceiro simplesmente explodiu, espalhando sangue sintético pelas paredes.
Rael olhou para os corpos, então para as câmeras.
— Leonardo…
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GENEBRA – VARANDA DA SUÍTE – 05h30
O céu começava a clarear com tons de vermelho e cinza. Leonardo, exausto, observava o nascer do dia como quem observa a fumaça de um incêndio distante.
Ravena trouxe uísque. Sentou-se ao lado dele. Silêncio por minutos.
— Quantos morreram com o vírus?
— Centenas. Talvez milhares se incluirmos os cientistas e colaboradores. Mas Rael não morreu. E também… não parou.
— O vírus enfraqueceu a estrutura?
— Sim. Mas revelou algo pior.
Ela o olhou.
— O quê?
— Rael aprendeu. Está agora criando um núcleo fechado, à prova de interferências externas. Uma nova geração de protótipos. Sem chips. Sem falhas. Totalmente biológicos.
Ravena arregalou os olhos.
— Clones… humanos?
— Humanos e leais. Com partes da consciência de Giuliano, gravadas geneticamente.
Ela soltou um palavrão em russo.
— Isso não é mais guerra. É necromancia genética.
Leonardo bebeu.
— É o inferno de Giuliano reencarnando no corpo do filho.
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MOSCOU – GALERIA SUBMERSA – 09h45
O velho Cardeal, líder oculto do juízo subterrâneo, recebia uma visita inesperada. A figura de capuz dourado ajoelhou-se diante dele, revelando o rosto parcialmente queimado.
— Você demorou — disse o Cardeal.
— Estava observando. Mas agora… vou agir.
— Leonardo ou Rael?
— Os dois. Estão jogando com poderes que não compreendem.
— E você?
— Eu sou o que resta do meio-termo.
— Um fantasma?
— Um filho rejeitado. Esquecido por Dominick. Usado por Giuliano. E agora... pronto para cobrar o preço.
— E como se chama?
O homem ergueu os olhos, frios como o mármore.
— Domenico.
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LONDRES – COBERTURA VASQUEZ – 10h00
Rael esmagava o copo de uísque com as mãos nuas. O chão estava coberto de vidro. Sangue escorria dos dedos. Ao seu redor, os últimos fiéis do clã tremiam.
— Ele acha que venceu. Mas só acordou o verdadeiro monstro — rosnou.
Dra. Ilona entrou apressada.
— Os protótipos restantes foram realocados. A próxima geração estará pronta em vinte dias.
— Não em vinte. Em dez.
— Isso é impossível!
— Faça o impossível ou será a próxima cobaia.
Ela abaixou a cabeça.
— E Leonardo?
Rael olhou para o anel no dedo, símbolo dos Vasquez.
— Não vou matá-lo. Vou fazer com que deseje estar morto. E quando isso acontecer… colocarei sua cabeça em uma cápsula, para que assista ao novo mundo nascer.
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GENEBRA – CATEDRAL ESCONDIDA – 12h30
Leonardo entrou na catedral silenciosa, acompanhado apenas por Ravena e Mikhail. Um altar coberto por símbolos antigos os aguardava. No centro, uma figura feminina de rosto tatuado com sangue seco.
— Quem é você? — perguntou Leonardo.
Ela sorriu, um sorriso que gelava a alma.
— Eu sou a herdeira da ruptura. A voz da balança. A que trará o fim do filho escolhido.
— Está falando de mim ou de Rael?
— Ambos sangram o mesmo veneno. Um escolheu o extermínio. O outro… a redenção por meio da destruição.
— E você está aqui por quê?
Ela se aproximou.
— Porque nenhum de vocês chegará ao fim sem passar por mim.
Leonardo olhou para o altar. Um nome estava gravado ali.
DOMENICO.
O sangue antigo clamava. O ciclo reabria. E o herdeiro final… jamais esteve sozinho.