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CAPÍTULO 3 – AS REGRAS DO INFERNO

Viena – 21h47, Palácio Hofburg

O antigo palácio imperial estava mais vivo do que nunca. Sob lustres de cristal austríaco e tapetes vermelhos persas, o mundo do crime vestia sua melhor face. O que a imprensa chamava de “Baile de Influência Internacional” era, na verdade, a reunião anual das famílias mafiosas que controlavam a Europa.

Cada detalhe da noite tinha um preço. As músicas de Strauss ao fundo, os sorrisos falsos, os brindes em taças de ouro... tudo ali escondia segredos, dívidas e corpos enterrados em silêncio.

Leonardo Santorini entrou como um rei. Terno azul petróleo, gravata escura, o símbolo dos Santorini cravejado no anel. À sua direita, Isadora Vasquez — a mulher que todos acreditavam estar morta. Agora viva. Vestida para matar.

Ela usava um vestido vinho, justo, decotado, com uma fenda que deixava claro que sua presença era um ato de guerra e sedução. Os cabelos presos com fios de pérola e o colar com rubi — o mesmo que Leonardo lhe dera — brilhava como uma ferida exposta.

Os olhares se voltaram imediatamente. Uns com desejo. Outros com medo. Muitos com raiva.

— Estão todos olhando para mim — ela sussurrou.

— Estão olhando para o que não podem tocar — respondeu ele.

— Ou para o que planejam eliminar.

— Deixe que tentem.

Ela o encarou de lado, com aquele sorriso que só ela sabia fazer. O de quem provoca e desafia ao mesmo tempo.

— Vai mesmo me exibir como troféu?

— Não. Como aviso.

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SALÃO PRINCIPAL – 22h11

A dança havia começado. Casais se moviam com leveza em torno do salão. O som de violinos enchia o ar, mas o verdadeiro som era o da política sendo negociada em silêncio.

Leonardo segurou a mão de Isadora e a guiou à pista. O contato entre eles era firme, natural. Mas o que os olhos diziam era outra coisa.

— Você dança como se estivesse calculando a posição de cada inimigo — murmurou ela, com um leve sorriso.

— Porque estou.

— E se eu te atrapalhar?

— Você é minha distração favorita.

Ela riu, mas o riso morria antes de alcançar os olhos. Havia algo naquela noite... algo errado. Como se alguém, em algum lugar, já estivesse prestes a puxar um gatilho.

Então, ao final da dança, um garçom se aproximou com uma bandeja.

— Mensagem para o senhor Santorini.

Leonardo pegou o pequeno cartão de couro negro. Abriu. Leu. Seus olhos congelaram.

Isadora percebeu a tensão imediata.

— O que é?

Leonardo virou o cartão para ela.

Havia uma única frase escrita em tinta vermelha:

"Uma dança pode ser bela... até o sangue manchar o chão."

Assinado: R.V.

Isadora fechou os olhos. Rael estava ali.

PALÁCIO HOFBURG — SALÃO DE MÁRMORES — 22h34

Leonardo dobrava cuidadosamente o cartão com a mensagem de Rael enquanto seus olhos varriam o salão como se procurassem entre fantasmas. Isadora, ao lado, mantinha a postura erguida, mas as mãos trêmulas denunciavam o impacto.

— Ele está aqui — sussurrou ela.

— Ele quer que acreditemos nisso — respondeu Leonardo, frio.

— Não, Leonardo... ele está mesmo aqui. Rael nunca ameaça por carta. Ele age.

Leonardo olhou ao redor. Mafiosos russos brindavam em um canto. Representantes da máfia turca cochichavam com banqueiros franceses. E no centro de tudo, o mestre de cerimônias anunciava a próxima valsa com um sorriso tão falso quanto os convites oficiais.

Mas foi perto da varanda oeste que algo mudou.

Um homem de terno cinza-claro, alto, barba por fazer, surgiu entre os convidados. Seus olhos se cruzaram com os de Isadora por uma fração de segundo. Ela paralisou.

Leonardo percebeu na hora. Segurou firme seu braço.

— É ele?

Ela assentiu.

— Ele mudou. Mas é ele.

Rael Vasquez.

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VARANDA OESTE — 22h45

Leonardo o interceptou sozinho.

— Bela festa, Santorini. Um pouco mais luxuosa que as minhas reuniões no subterrâneo — disse Rael, com um sorriso debochado.

— Está em território inimigo.

— Ou talvez esteja só visitando minha irmã.

— Chegar armado?

— Sempre. Mas hoje... só trouxe palavras.

Leonardo manteve a calma.

— O que quer?

— Quero lembrar ao mundo que nem todo monstro é domesticável.

— Isadora não é sua. Nem sua causa.

Rael riu.

— Ela é meu sangue. E sangue não se troca por alianças de lençol.

— Fale isso a ela.

— Eu vou.

Antes que Leonardo pudesse responder, Rael já estava se afastando de volta ao salão. Como se não tivesse acabado de ameaçar explodir tudo com apenas uma presença.

---

SALÃO CENTRAL — 23h12

Isadora estava com uma taça de espumante na mão, sozinha junto à parede dos espelhos venezianos. As palavras de Rael ecoavam dentro dela mesmo sem serem ditas. A presença dele tinha sido como um choque térmico. Ela era Vasquez… mas estava se transformando em algo novo, algo que não sabia nomear.

Leonardo se aproximou.

— Ele não quis brigar. Hoje não.

— Rael nunca ataca primeiro. Ele planta.

— O que você vai fazer?

Ela ergueu o olhar.

— Ainda não sei. Mas não vou fugir.

— Ele vai te usar como estopim.

— E você vai me usar como escudo?

Leonardo respirou fundo.

— Não. Vou queimar por você se for preciso.

Ela o encarou por um longo instante. Então disse, quase sem som:

— Então me mostra que não é só um Santorini. Me mostra que é meu.

VIENA – ANTIGA VILLA VASQUEZ – 06h47

A chuva castigava os telhados quebrados da antiga villa, como se o próprio céu lamentasse as histórias enterradas sob aquelas pedras rachadas. Leonardo Santorini desceu do carro com o capote preto cobrindo os ombros e os olhos ocultos por óculos escuros. Atrás dele, dois seguranças silenciosos faziam a ronda do perímetro.

— Nenhum sinal de movimento. Os drones térmicos não identificaram calor humano nos últimos dias — disse Matteo, seu tenente pessoal.

— Mesmo assim, ela respira — Leonardo respondeu, encarando a entrada do casarão como quem encara um túmulo mal fechado. — As ruínas de um império falam. E eu vim escutar.

Com passos lentos, ele cruzou a entrada principal. Havia sangue seco nas paredes, marcas de tiros, portas penduradas por um fio de ferrugem. Mas nada ali o abalava. Aquela não era sua primeira visita à casa onde, décadas antes, Giuliano Vasquez traçava alianças com demônios.

Ele passou pelo antigo salão de festas. O piano quebrado ainda estava lá. Foi ali que sua mãe, Laura, dançou pela última vez antes da tragédia que separaria para sempre as famílias Santorini e Vasquez.

— Se quiser vencer Rael… terá que destruir as raízes dele. Inclusive, as que ainda te tocam.

A voz de Dominick ecoava em sua mente.

Mas Leonardo já sabia disso.

No andar superior, encontrou o antigo escritório. Havia uma caixa preta sobre a lareira. Dentro dela, apenas uma fita cassete e uma foto empoeirada: Giuliano sorria ao lado de um menino de olhos escuros — Rael, ainda criança.

Leonardo pegou a fita, sem expressão. Mas por dentro, tudo queimava.

— Esse legado... não é meu, mas me escolheu mesmo assim.

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