GENEBRA – DISTRITO 9 – 07h02
Vinte anos.
Era essa a idade de Leonardo II naquele dia. O mundo, agora sem impérios nem cultos, vivia de pequenas rotinas, respiros entre lembranças e silêncios aprendidos.
Ele caminhava pelas ruas de Genebra sem escolta, sem sobrenome anunciado. Apenas Leonardo. Às vezes, diziam “o filho daquele Leonardo”, mas a maioria só o conhecia por sorrisos curtos e perguntas longas.
Seu rosto tinha a firmeza de Dominick, o brilho melancólico de Domenico e a sombra que só pertence a quem nasceu entre eras que sangraram.
—
CAFÉ AZUL – 07h15
— Bom dia, Leo — disse Sofia, a atendente, entregando o café de sempre.
— Ainda lembra do pedido?
— Você não muda. Só troca o tom com que agradece.
Leonardo sorriu, pegou o copo e caminhou até a última mesa, no canto.
Lá, abriu um caderno de capa preta. A capa trazia apenas um símbolo: a chama sobre o espelho.
Ele escreveu:
> “Hoje não sonhei.
Mas acordei com a sensação de que algo dentro de mim quer gritar.
Não é dor.
Não é luto