Matheo Montclair
Quarta-feira, 14 de setembro de 2022
As palavras que eu havia dito a ela ainda ecoavam: “Eles continuam em você.”
Isabela não respondeu de imediato. Ficou apenas me olhando, como se buscasse dentro de si a coragem para acreditar. Os olhos marejados, as mãos trêmulas sobre o casaco… e, ainda assim, havia uma força nela que me surpreendia. Eu já tinha visto pessoas desmoronarem por muito menos. Mas ela permanecia ali, de pé, mesmo que em pedaços.
— Quer que eu a leve para casa? — perguntei, certo de que era o melhor.
Ela respirou fundo.
— Não… eu vou para o ateliê. Preciso pintar.
Não discuti. Sabia reconhecer quando alguém precisava se agarrar ao seu refúgio. O ateliê era o dela.
—  Certo. Te deixo lá então.
Fiz um sinal para Oscar e seguimos até lá. No carro, Isabela manteve os olhos fixos em suas mãos. Eu percebia os lábios dela se movendo quase imperceptivelmente, como se conversasse ainda com os pais em silêncio.
Quando estacionamos em frente à fachada envidraçad