Isabela Andrade
Quarta-feira, 14 de setembro de 2022.
Eu ainda não conseguia me livrar da sensação de ardência no rosto. Vergonha. Era isso que me acompanhava desde o instante em que Matheo me viu nua. Por acidente, sim, mas o constrangimento me devorava. Ele parecia não ter dado importância, mantendo aquele ar frio e impassível, mas eu… eu só queria desaparecer.
Logo depois, tive que enfrentá-lo no escritório. Ouvi cada cláusula do contrato como se fossem marteladas dentro de mim: prazos, aparências, obrigações. Ele falava como se tudo fosse apenas números, mas para mim aquilo era a minha vida. Concordei. Não havia saída. Saí de lá com um peso no peito que nenhum documento assinado poderia aliviar.
Peguei um táxi. Não iria ao ateliê hoje. Queria estar perto deles... os únicos que poderiam entender meu silêncio. Pedi ao motorista que passasse na pequena floricultura da Rue de Turenne. Comprei lírios brancos e rosas amarelas, as flores que minha mãe mais amava. Apertei o buquê contra o