Matheo Montclair
Nunca fui de perder tempo revivendo cenas do passado, mas a noite anterior insistia em me assombrar.
O carro silencioso, a tensão quase palpável, o olhar dela quando perguntou se eu voltaria com Lúcia. E aquela resposta dela… fria, racional, como se a única razão para se importar fosse o contrato. Ainda assim, por algum motivo, me atingiu.
Acordei cedo, como sempre. Banho rápido, barba alinhada, terno impecável. A cadeira estava onde sempre deixo, à beira da cama. Deslizei para ela com naturalidade, um movimento treinado até se tornar instintivo.
Chamei Oscar e pedi que ele me levasse até o ateliê.
No caminho, me obriguei a repetir mentalmente que manteria distância dela. É mais seguro. Para nós dois.
Chegamos. Portas fechadas. Oscar desceu para verificar, voltou com a resposta:
— Ela não está, rapaz.
Suspirei, já imaginando onde poderia encontrá-la. Pedi para irmos até a casa dela.
Quando o carro encostou na calçada, ela estava saindo. Vestido claro, cabelos soltos,