O jantar finalmente terminara, mas o clima no apartamento ainda estava carregado. O pai de Cecília levantou-se devagar, pegou o controle remoto e ligou a televisão, o som baixo preenchia a sala com uma presença quase incômoda.
Cecília, sentindo o peso invisível daquele ambiente, começou a recolher os pratos da mesa. Os dedos ainda estavam levemente trêmulos, resquício do nervosismo que se instalara durante o jantar. A tensão não tinha vindo de palavras explícitas, mas de olhares, de pausas longas e de frases ditas com um tom sutilmente provocador — o tipo de coisa que só quem conhece bem percebe.
— Cecília… vai descansar. — disse Enrico, permanecendo sentado, com a voz calma, mas firme o bastante para que ela soubesse que não era um simples convite.
— Não agora — respondeu ela, tentando manter a naturalidade. — Primeiro preciso deixar a cozinha em ordem.
Ele suspirou, levantando-se lentamente. Antes que ela pudesse se mexer, Enrico tomou o prato que ela segurava, colocando-o de volta