A casa estava mergulhada em silêncio.
Aurora dormia no quarto ao lado, respirando suave, o som quase imperceptível que enchia o ambiente com uma paz frágil.
Cecília ajeitou a manta no berço, observou a filha por alguns segundos e então se afastou, devagar, como quem teme despertar algo que precisa continuar adormecido.
O corredor estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca vinda do quarto de Enrico.
A porta estava entreaberta.
Ela parou ali, na soleira, o coração batendo em um ritmo irregular. Enrico estava sentado à beira da cama, alguns papéis sobre o criado-mudo, a cabeça levemente inclinada. Parecia cansado, mas tranquilo. Quando sentiu o olhar dela, ergueu o rosto.
— Está tudo bem? — perguntou, a voz baixa.
Cecília demorou um instante para responder.
— Está — disse, quase num sussurro.
O silêncio se estendeu entre eles, espesso. Havia algo no semblante dela, algo que Enrico reconheceu — o mesmo olhar de quem carrega uma batalha interna.
— Cecília... — ele chamou, com cuidado.