A madrugada parecia não ter fim. A chuva fina continuava a cair, tamborilando no vidro da pequena sala do apartamento de Julia, como se quisesse marcar cada minuto de vigília que Cecília atravessava. Enrolada em uma manta no sofá, ela permanecia imóvel, os olhos fixos no teto. O corpo pedia descanso, mas a mente estava em chamas.
As palavras trocadas com Enrico ecoavam em sua cabeça, como farpas que não encontravam saída. A cena dele socando a mesa, o olhar carregado de raiva e mágoa, a forma como o silêncio deles havia se transformado em algo maior que qualquer frase. Ela o amava, mas naquela noite tinha sentido pela primeira vez que talvez o amor não fosse suficiente para suportar tantas rachaduras.
Julia entrou devagar, trazendo uma xícara de chá fumegante. Sentou-se na poltrona ao lado e ficou alguns segundos em silêncio, apenas observando a amiga.
— Você não vai conseguir descansar desse jeito… — murmurou, estendendo a xícara.
Cecília segurou-a com as duas mãos, mas não bebeu. O c