O primeiro e marcante olhar

O sol do Rio de Janeiro ardia sobre o asfalto, refletindo em vidraças e nos arranha-céus do centro da cidade. Para Khaled, que atravessava as ruas em silêncio, escoltado discretamente por seguranças e acompanhado de seu assessor de confiança, Nadir, a paisagem era uma ferida aberta para seus olhos habituados à sobriedade das terras árabes. Aqui, tudo lhe parecia excessivo: o barulho constante, as risadas fáceis, as mulheres quase nuas caminhando à beira-mar, expostas como mercadorias em um bazar sem véus.

Nadir, sempre atento, aproximou-se e murmurou em árabe:

— Meu senhor, lembre-se... estamos em terras estranhas. Aqui, a liberdade deles é tão vasta quanto o mar que os cerca.

Khaled não respondeu. Apenas ergueu o queixo, a postura ereta, o olhar severo. Sua capa de linho branco, caída sobre os ombros largos, flutuava com a brisa quente que escapava das janelas abertas dos prédios antigos. Ele estava ali não como turista, mas como senhor. Um príncipe mercador que atravessava o oceano para selar uma negociação que já era considerada a maior da história de sua fábrica de perfumes.

Foram conduzidos até o edifício luxuoso onde ficava o escritório de Eduardo Vila Real, um nome que, mesmo de longe, soava para Khaled como ousado demais. Um homem que pedira, através de uma conferência online, uma quantidade imensurável de perfumes raros — fragrâncias feitas com óleos e especiarias que só a terra dos beduínos poderia dar. E não apenas pedira: exigira condições e prazos que teriam ofendido qualquer outro sheik.

Mas Khaled aceitara. Havia algo naquele brasileiro que o intrigava, uma ousadia que não era comum aos homens de negócios que normalmente lhe baixavam os olhos com reverência.

Quando atravessou as portas da sala de reuniões, o ambiente estava impregnado de ar-condicionado, frio e artificial, contrastando com o calor que pulsava em seu corpo. Vários homens já o aguardavam, engravatados, espalhados pela mesa comprida de mogno. E lá estava Eduardo, sentado à cabeceira, com um sorriso que para Khaled não passava de cortesia vazia.

O sheik franziu a testa. Não havia ali tapetes vermelhos, nem o incenso que ele usava para receber convidados em seus salões de mármore. Não havia reverência. O brasileiro o tratava como igual, talvez até como simples fornecedor. E isso fez o sangue do árabe ferver.

Seu peito se expandiu, a respiração pesada, e um olhar de ferro se instalou em seus olhos verdes faiscantes. Ele acreditava estar sendo subestimado, reduzido, maltratado. A ira queimava em seu íntimo como labaredas prestes a incendiar aquele lugar.

Mas então... a porta se abriu.

E com ela, entrou um sopro de outro mundo.

Não foi o barulho do salto ecoando no mármore que chamou sua atenção, nem a pasta executiva de couro preto que a mulher trazia nas mãos. Foi a presença. Uma aparição angelical, envolta em um terno azul claro que desenhava suas formas delicadas, e um par de brincos em formato de estrelas cintilando sob a luz fria das lâmpadas.

Os cabelos cacheados, castanhos e volumosos, caíam em cascata pela cintura fina, balançando como ondas ao menor movimento. A pele clara, levemente bronzeada pelo sol de Ipanema, tinha o brilho das mulheres livres que caminhavam entre a areia e o mar. Seus olhos castanhos eram profundos, serenos, mas firmes — como se trouxessem consigo uma determinação capaz de enfrentar qualquer conselho de homens.

Khaled prendeu a respiração.

O tempo parou.

Seu corpo, acostumado à disciplina do aço e do suor, respondeu de imediato: um fogo cresceu entre suas pernas, queimando, como se a simples visão daquela brasileira tivesse rompido todas as muralhas de sua autossuficiência. O ar-condicionado já não era suficiente para esfriar o calor que lhe invadia o sangue.

Por um instante, ela não foi executiva, não foi filha de empresário, não foi figura intocável. Aos olhos do sheik, Samara era já uma concubina. Ele a via em seu harém, vestida com seda translúcida, ornada com joias de ouro e pedras preciosas, deitada em sua cama coberta de almofadas, pronta para se entregar ao seu toque. Ele a via dançando apenas para seus olhos, respirando apenas para seu prazer.

Um delírio. Uma miragem.

Khaled piscou várias vezes, tentando se convencer de que aquela mulher era real e não uma ilusão do deserto.

Eduardo, orgulhoso, se levantou e abriu os braços em direção à filha:

— Senhores, permitam-me apresentar... Samara. A menina dos meus olhos, meu orgulho e, ao mesmo tempo, minha maior fraqueza.

Um murmúrio de aprovação percorreu a sala. Os olhares dos homens pousaram sobre ela, e Samara, educada, apenas sorriu, agradecendo com discrição.

— Samara é minha secretária executiva. Ela cuida de todos os meus compromissos, organiza minhas reuniões, elabora relatórios de vendas e auxilia nossa rede de lojas com uma competência que, confesso, às vezes me mata de ciúmes.

As palavras ecoaram no peito de Khaled como lanças afiadas. Ciúmes. Orgulho. Fraqueza. O empresário brasileiro descrevia a filha com uma intimidade quase possessiva, e o árabe, acostumado a ser dono de tudo que desejava, experimentou um impulso primitivo: Samara deveria ser sua.

Enquanto todos sorriam, ele não sorriu. Permanecia imóvel, paralisado, fixando os olhos verdes no rosto dela. Estava memorizando cada traço perfeito: a linha suave do queixo, os lábios sedutores, o nariz delicado. Gravava em sua mente como quem esculpe em pedra.

Samara, por sua vez, não parecia intimidada com a presença daqueles homens. Sempre fora competitiva, determinada a provar que era capaz de estar entre eles, de ser respeitada pela inteligência e não apenas pela beleza. Mas quando seus olhos se cruzaram com os de Khaled, algo dentro dela vacilou.

Foi como se tivesse sido despida, sem que ele tivesse sequer tocado nela.

O peso do olhar dominante do árabe a atravessou como corrente elétrica. Samara, que sempre se orgulhara de sua independência, sentiu-se vulnerável, como se estivesse diante de um predador que já a possuía apenas com os olhos.

O silêncio entre eles era palpável.

Enquanto Eduardo falava de números e contratos, enquanto Samara abria a pasta preta e distribuía relatórios com a naturalidade de quem estava em seu habitat, Khaled não ouvia nada. Não via nada. Apenas a despia em sua mente.

Imaginava cada curva revelada, cada botão do terno azul sendo aberto lentamente por suas próprias mãos. Imaginava-a curvando-se diante dele, não como executiva, mas como submissa, oferecendo-se ao seu domínio.

Seu corpo pulsava de desejo reprimido, mas seu rosto permanecia inexpressivo, máscara de ferro que ninguém ousaria questionar. Apenas Nadir, sentado ao lado, percebeu a tensão em seu senhor, e desviou o olhar com respeito silencioso.

A reunião seguiu. Eduardo, indiferente à intensidade que pairava no ar, falava sobre prazos, metas, valores. Samara apresentava gráficos, respondia perguntas, defendia números com uma eloquência que arrancava acenos de aprovação dos presentes.

Mas para Khaled, nada daquilo importava.

Apenas uma certeza queimava em seu íntimo: o destino havia colocado aquela mulher em seu caminho.

E ele, Khaled Al-Rashid, o homem que movia céu e terra para conquistar o que desejava, não permitiria que aquela visão angelical escapasse de suas mãos.

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