92. Bom dia dorminhoca
Acordei com a sensação de ter sido atropelada por um caminhão chamado vinho tinto.
Minha cabeça latejava, a boca parecia feita de areia, e o travesseiro tinha um perfume estranho — amadeirado, quente, irritantemente familiar.
Pisquei.
O braço que estava sobre minha cintura não era o meu.
Congelei.
Devagar, virei o rosto.
Dante dormia ao meu lado.
Descalço, camisa aberta, expressão tranquila como se o mundo fosse um spa particular e eu não estivesse tendo um mini colapso existencial.
— Merda — sussurrei.
Tentei me soltar, mas ele se moveu e o braço dele apertou de leve, como se o corpo soubesse que eu ia fugir.
— Não — murmurou, sonolento, a voz rouca. — Fica quieta.
— Eu... — engoli o pânico. — Você tá... me abraçando?
— Reflexo. — Ele nem abriu os olhos. — Costumo proteger o que me incomoda.
— Ah, ótimo. Que romântico. — Revirei os olhos e, num movimento digno de fuga de prisão, consegui escapar.
Levantei da cama, tropecei no tapete e corri pro banheiro antes que minha dignidade desm