58. Visivelmente desconfortável
O salão seguia mergulhado em luz e luxo — taças tilintando, risadas educadas e o burburinho de negócios mascarado por cortesia. Eu fingia estar à vontade, mas cada célula do meu corpo queria ir embora dali.
Miguel, por outro lado, parecia flutuar. Sabia se mover, sabia falar. O tipo de homem que dominava um ambiente sem precisar levantar a voz.
— Está tudo bem? — ele perguntou, quando percebeu que eu olhava demais para o vazio.
— Está, sim. — menti. — Só estou me acostumando com o salto.
Ele riu, e foi aí que algo em mim relaxou um pouco. Quando o garçom passou com as taças, ele me ofereceu uma. Toquei a borda do cristal e sorri.
— Então brinda a quê? — ele perguntou, inclinado o suficiente para que eu sentisse o perfume amadeirado dele.
— À sobrevivência. — respondi, irônica.
— Gosto disso. — ele disse, com um meio sorriso. — Tem coragem em quem brinda o que já perdeu e ainda assim aparece em público.
O olhar dele prendeu o meu por tempo demais.
E quando a música trocou para um ritmo