101. Olhos em todo lugar
A manhã nasceu cinza, meio preguiçosa.
E eu também.
Passei a madrugada revirando na cama, entre o arrependimento e o desejo. Quando finalmente aceitei que dormir era impossível, percebi que Dante não estava em parte alguma da casa.
Nem um bilhete.
Nem um ruído.
Nada.
O silêncio dele era pior que qualquer discussão.
Desci de robe, o chão gelado sob os pés, e encontrei apenas Lara na cozinha — descabelada, servindo café como quem precisava dele pra sobreviver.
— Dormiu? — ela perguntou, já sabendo a resposta.
— Fiz o possível — murmurei.
— E o Dante?
— Sumiu. Como bom covarde.
Lara riu de leve. — Sabe que ele tem esse talento.
Antes que eu respondesse, o som de um motor caro invadiu o ar.
O coração me deu aquele salto irritante.
— Quem é esse? — perguntei.
— Se for o Santi, já prepara o ouvido. Ele vai encher.
E, claro, era ele.
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O portão se abriu e o carro preto entrou com toda a pompa de quem acredita que o mundo é seu palco.
Santiago Morales saltou do veículo com óculos escuros, s