Choveu durante toda a noite. A chuva grossa tamborilava nas vidraças da Casa dos Silêncios como se quisesse lembrar a Eleanor que algumas memórias não se enterram — apenas adormecem embaixo da terra molhada.
Na manhã seguinte, ela acordou com a luz filtrada por nuvens densas, envolta em um cinza silencioso que combinava com seus pensamentos. Desceu as escadas envolta no roupão de lã, os pés descalços frios contra o assoalho de madeira. A casa exalava aquele cheiro antigo e familiar de livros, umidade e saudade. Mas havia algo mais agora. Um outro aroma, quase imperceptível: o cheiro de mudança.
Preparou café e abriu uma das janelas da sala, deixando o ar fresco invadir. O vilarejo parecia adormecido sob a névoa. Era como viver dentro de um segredo.
Pouco depois das dez, Theo chegou.
Ele trazia uma expressão mais tranquila, embora os olhos ainda carregassem uma sombra antiga. Usava o mesmo casaco escuro e os cabelos estavam úmidos da garoa. Carregava a mesma pasta de couro e, naquela m