Aurora precisava respirar, precisava desesperadamente de um pouco de normalidade. Nos últimos dias, sua vida tinha se resumido a acordar e dormir sob o olhar atento e excessivamente controlador de Enrico. Era sufocante, perigoso, viciante. E, ao mesmo tempo, enlouquecedor. A sombra de Tommaso a perseguia dia e noite, a deixando ciente que mesmo casada seguia em perigo. Enrico havia mencionado que o negócio da Villa estava definitivamente cancelado e suas relações com ele cortadas. Parece que ele não havia aceitado nada bem quando descobriu sobre o casamento de Aurora.Então ela não pediu permissão, não dessa vez. Estava cansada, exausta de se sentir prisioneira, vigiada, sufocada naquela casa luxuosa que mais parecia uma gaiola de ouro. Enrico podia controlar o mundo lá fora. Podia ter o poder, o dinheiro, os seguranças...Tommaso
O carro deslizou pelas ruas com o silêncio mais barulhento que Aurora já experimentara. Ela olhava pela janela, os braços cruzados sobre o peito, tentando fingir indiferença. Mas por dentro, seu corpo ainda fervia. A tensão em seu pulso — onde ele a segurara — ainda latejava. A sensação de pertencimento que ele impusera com aquela simples frase que havia dito mais cedo— "Você é minha esposa agora" — ainda vibrava nos seus ossos.Enrico, no banco do motorista, dirigia com os olhos fixos na estrada, a mandíbula travada, os dedos cerrados no volante como se fosse esmagá-lo. Cada músculo de seu corpo parecia tenso, como se ele lutasse contra um impulso primitivo.Quando chega
Aurora acordou na manhã seguinte com uma sensação estranha, como se algo estivesse fora do lugar. O que era estranho pois havia passado a noite nos braços de Enrico, exatamente onde queria estar. Ela tentou ignorar, mas assim que desceu do quarto foi informada que tinha recebido um pacote, seu corpo inteiro se enrijeceu. A caixa era pequena, embrulhada com um papel escuro e um laço de cetim vermelho. Algo no presente a fez hesitar antes de pegá-lo, mas a curiosidade e o medo a venceram.Com as mãos trêmulas, ela desfez o laço e levantou a tampa. Seu estômago revirou ao ver o conteúdo: um buquê de lírios brancos, já começando a murchar, e um pequeno bilhete dobrado ao lado. Ela pegou o papel com relutância e leu as palavras escritas com uma caligrafia elegante, mas carregada de ameaça:
Foram dias suspensos no tempo. Como se o mundo lá fora, com suas ameaças, seus jogos de poder e perigos invisíveis, não existisse mais.Aurora acordava e já sentia a presença dele, antes mesmo de abrir os olhos. O cheiro de Enrico impregnava os lençóis, a pele dela, o travesseiro. Ele acordava cedo, mas sempre voltava para espiar se ela ainda dormia, para deslizar os dedos devagar por sua cintura, como quem toca algo precioso demais para se desfazer do contato tão rápido.Ela fingia dormir só para sentir. Para ouvir o som abafado do sorriso dele ao perceber que ela se aninhava um pouco mais em sua direção.O homem que todos temiam... era tão silenciosamente doce naqueles gestos que Aurora se via, vez ou outra, de cora&c
Aurora gritou o nome de Enrico como quem gritava por si mesma. Uma prece, um lamento, um último pedido ao destino que sempre lhe fora cruel. O som dos pneus queimando o asfalto ecoava na rua como um aviso tardio. Ele estava caído ali, imóvel. O homem que sempre fora maior do que a vida, o homem que parecia indestrutível.Agora era só um corpo vulnerável entregue ao chão frio.— Enrico! — A voz dela cortou o dia — desesperada, rouca e descomposta.As pessoas começaram a se aproximar. Vozes se misturavam, sons se atropelavam. O sangue escorria lento pelo rosto dele, desenhando linhas tortas, vermelhas. O motorista do carro fugira covardemente, como tudo que Tommaso representava. Aurora se ajoelhou ao lado de Enrico, as mãos trêmulas
Foram dias... semanas. Aurora já não sabia mais medir o tempo. O hospital era um mundo à parte, onde as horas se dissolviam em silêncio, esperança e medo. Ela vivia à beira de um abismo, presa entre o passado que sangrava e o futuro que ela temia encarar. Mas naquela manhã, o mundo dela estremeceu.— Aurora… ele está acordando — avisou uma enfermeira.Aurora ia para casa apenas tomar banho, trocar de roupa e dormir algumas horas, isso quando não adormecia no sofá do quarto de hospital. ficu amiga de toda a equipe de enfermagem e medicos, que admiravam seu empenho em permanecer ao lado do marido. Por um segundo, o coração dela esqueceu como bater. Ela havia ido a cafeteria buscar um café, mas levantou tão rápido da cadeira que o corpo protestou. Correu pelos corredores como quem fugia de si mesma. Ela entrou devagar, e lá estava ele, com os olhos abertos. Mas frios, estranhos, incrivelmente distantes.Ela parou na porta, em dúvida sobre como proceder, era um olhar que a repelia, a afa
O silêncio do corredor soava ensurdecedor quando Aurora desceu do elevador privativo do hospital. Passara algumas horas em casa, horas eternas, na tentativa inútil de se recompor, de respirar. Mas o vazio que a corroía por dentro parecia maior que tudo. Ele acordara e não a reconhecia.Ela soube pela enfermeira, pelo olhar aflito do médico... e pelas ordens frias que ele dera. "Ela não entra."Aurora parou diante da porta do quarto. O segurança particular de Enrico, um homem que ela conhecia há meses, que a tratava com respeito e até carinho, agora lhe bloqueava o caminho com visível constrangimento.— Senhora Au
O silêncio do escritório de Enrico era sufocante, ele havia saido do hospital naquela manha e ido direto para casa. Aurora estava de pé, com os olhos marejados, enquanto ele folheava com descaso a cópia da certidão de casamento que ela lhe entregara. O documento tremia levemente nas mãos dele, não por emoção, mas por raiva contida.— Impressionante — ele disse, sarcástico. — Confesso que, se realmente fui eu quem assinou isso, devo ter bebido até perder a alma... — Os olhos frios dele subiram lentamente até os dela. — Mas ao menos tive o bom senso de fazer um acordo pré-nupcial.Ele arremessou o papel sobre a mesa como se fosse lixo.— Não se preocupe — continuou, venenoso. &mdas