Aurora não sabia exatamente quando aquilo tinha virado rotina, talvez um dia ou dois depois dela ter levado ele até o cemitério, ao túmulo de Teodoro. Talvez Enrico tivesse precisado de um tempo para assimilar tudo, ou apenas viver seu luto particular. Ele aparecia, simples assim. Sem avisar, sem pedir licença. Como se o direito de estar ali tivesse nascido com ele. Como se o passado, tão cruel, tão cheio de lacunas, lhe desse algum salvo-conduto para entrar na sua casa e bagunçar de novo o que ela tanto lutou para manter no lugar.
Naquele fim de tarde, a chuva começava a engrossar no céu acinzentado, e ela suspirava frente ao fogão, terminando uma sopa qualquer. Simples e prática, do jeito que a solidão a ensinou a viver. O barulho do motor do carro dele já não a assustava mais, mas ainda a fazia