(Narrado por Helena Ferraz Valença)
O sol ainda nem tinha se imposto direito quando saí de casa.
Mateo ia do meu lado, com a mochila azul pendendo de um ombro só, o cabelo bagunçado e a alegria fácil que só criança tem.
Falava sem parar sobre um desenho novo, e eu só fingia acompanhar.
Meu corpo seguia o passo.
Mas a cabeça…
ficou no sonho da noite passada.
Na voz do Dante ecoando no escuro.
E, principalmente, no “papai” que saiu tão leve da boca do meu filho e não era pra ele.
Chegamos na escola.
O portão já aberto.
A professora, sorridente.
— “Dá tchau pra mamãe, amor.”
Mateo se virou e me deu um beijo rápido, descuidado.
Antes de entrar, perguntou:
— “Hoje o papai vem me buscar?”
Meu sorriso pesou.
— “Vem sim, meu amor.”
Ele acenou e correu pro pátio.
E eu fiquei ali por um segundo, olhando até ele sumir.
Só então respirei.
E fui.
---
O prédio da empresa parecia mais alto do que antes.
Ou talvez fosse só o peso que eu trazia nas costas.
O letreiro lá em ci