O apartamento estava um caos. Nada novo. As garrafas vazias e os papéis espalhados pelo chão eram apenas reflexo do que acontecia na minha cabeça. Não lembro o último momento em que consegui me concentrar em algo além da dor e da raiva que consumiam tudo. Era como se o lugar tivesse ficado tão escuro quanto eu me sentia por dentro.
As luzes fracas da cidade invadiam pela janela, lançando sombras distorcidas nas paredes. Eu odiava aquelas sombras, mas não tinha forças para apagá-las. A desordem ao meu redor, as roupas espalhadas pela casa, as taças sujas na mesa – tudo parecia um reflexo perfeito do que eu havia me tornado.
Sentei-me no sofá, os ombros pesados, as mãos entrelaçadas na frente de mim. Eu precisava pensar, precisava de alguma clareza, mas a única coisa que conseguia fazer era reviver a cena. A cena dela com Victor. O desespero que me tomava a cada vez que meu cérebro se atrevia a lembrar do que vi. A raiva era um veneno que se alastrava, engolindo qualquer razão que eu