A madrugada parecia uma corda esticada entre dois prédios. A cidade respirava baixo; a casa, mais baixo ainda. Aline tinha saído há poucos minutos para checar a equipe no perímetro — “dez, no máximo quinze” —, e o silêncio que restou no apartamento novo não era confortável; era elétrico, como ar antes de tempestade.
Vivian veio da cozinha com dois copos d’água e encontrou Eduardo no vão da sala, de camisa aberta no colarinho, mangas dobradas, o rosto marcado por um dia longo demais. Colocou um copo na mesa. Ele assentiu em agradecimento, mas não bebeu. Ficaram por um instante um diante do outro, como se esperassem que o mundo dissesse o que fazer.
— César mandou recado para Aline hoje — disse Eduardo, voz baixa. — “Quem protege também sangra.”
Vivian sentiu o estômago contrair. — Ele não vai parar.
— Não — concordou Eduardo. — E nós também não.
Ele deu um passo. Pequeno, mas foi o suficiente para o ar mudar de densidade. Vivian percebeu o cheiro dele — limpo, quase sem perfume —, e, p