O extrato bancário não veio como dossiê: veio como ruído. Três depósitos em valores quebrados, pingados em uma conta que o gerente jurava usar só para “emergências operacionais”. Gaia olhou os números como quem decifra uma partitura ao contrário. Havia um padrão: sempre às sextas, sempre depois da meia-noite, sempre com a mesma referência de cinco dígitos. Não era salário, não era bônus. Era pagamento por algo que não deveria existir.
— Ninguém gasta assim sem vender alguma coisa — disse, fechando o notebook. — E o que ele tem para vender não é dele: são vocês.
Vivian demorou alguns segundos antes de responder. O nome Scarlett latejava na nuca como febre. — Você consegue provar?
— Estou montando o mapa — respondeu Gaia, controlada. — Cruzando entradas de “eventos especiais” com o fluxo dessa conta. Quando esse gráfico ficar de pé, ele cai. A pergunta é: quem compra?
Vivian abaixou o olhar. No espelho, a mulher do xale e do batom pareceu inclinar levemente a cabeça, como quem escuta um