A manhã chegou com o peso de um livro grosso sobre o peito. Eduardo abriu a janela do gabinete para deixar o ar frio de Curitiba entrar, como quem convida a cidade a testemunhar. Sobre a mesa, o recorte da revista, agora sem importância, servia de marcador entre processos. Ele não tinha tempo para fantasmas. Tinha, sim, para formas.
No bloco, escreveu: “Teste 1: imprensa. Resultado: sem efeito.” Desenhou uma seta para a próxima linha: “Teste 2: bastidor.” Talvez viessem de onde sempre vêm os empurrões que não querem assinatura — telefonemas sem dono, convites que sugerem proximidade, sorrisos de empréstimo. Ele conhecia a coreografia.
Henrique entrou com passo curto e um envelope amassado. — Chegou isso pelo correio interno — disse. — Sem remetente, claro.
Eduardo abriu. Dentro, uma folha com três linhas datilografadas: “A cidade conhece os seus corredores. Cuidado com os degraus.” O juiz sorriu, sem humor.
— Agora eles leem poesia — comentou, guardando a folha num plástico transparen