Encontraram o papel sobre a penteadeira, dobrado em quatro, como quem esconde uma faca num guardanapo. Vivian respirou antes de abrir. Era a imagem: ela, de perfil, recolhendo o lenço vermelho no corredor do evento. Grão grosseiro, contraste puxado, ângulo maldoso — tudo ao mesmo tempo. Embaixo, a frase em tinta fina: “Uma imagem pode valer mais que silêncio.”
Gaia pegou a folha com pinça de museu. Não tremeu. Ergueu contra a luz do camarim, examinou as bordas, a sombra projetada no carpete, o recuo da parede.
— Montagem em cima de recorte verdadeiro — constatou, didática. — Empurraram o contraste para sugerir lugar e distância que não existem. A sombra aqui não bate com a luminária do teto. E olha o corrimão: duplicado por má recortagem.
Aurora, às costas, cruzou os braços. — Querem que o olho veja antes da cabeça pensar.
— E querem que a culpa seja tua — completou Gaia, pousando a folha sobre a mesa como quem desarma um artefato. — Mas culpa não é nossa língua. A nossa língua é prot