O corredor do clube amanhecia devagar, como se a noite custasse a ir embora das paredes. Vivian retirou os brincos sem olhar, uma memória antiga guiando os dedos, e se encarou no espelho do camarim. Scarlett devolveu o olhar: batom impecável, olhos armados, cabelo ruivo domesticado por grampos. Por baixo, porém, a fotografia de Mariana raspava o forro do vestido como quem lembra um endereço. O recorte com a letra da menina — “O amor é uma escada que a gente sobe junto” — pesava no bolso como uma pedrinha plantada no coração.
— Dormir é verbo que existe? — perguntou Gaia, encostada no batente, uma caneca que fumegava.
— Existe, mas anda caro — respondeu Vivian, tentando sorrir. — Ontem… deixaram a letra dela no espelho. Senti como se tivessem entrado na nossa cozinha.
Gaia pousou a caneca e cruzou os braços. — Entrar não é morar. E cozinha, quando precisa, vira quartel. — Afastou um dos grampos com cuidado. — Hoje, nada de eventos de corredor. Você entra, fica visível o suficiente para