A manhã chegou como uma lâmina limpa, mas o clube carregava o cheiro da noite: perfume caro, carpetes cansados, segredos que não descansam. No camarim, Vivian prendeu o cabelo com dois grampos e respirou diante do espelho. A frase de Mariana — “o amor é uma escada que a gente sobe junto” — permanecia colada no caderno. Era um pequeno farol quando o resto insistia em virar neblina.
— Dormiu? — Gaia perguntou, aparecendo no batente com a caneca de café que parecia parte do seu uniforme.
— O suficiente para sonhar de novo — respondeu Vivian, e a sombra de um sorriso passou rápido. — Ele estava lá. Mais perto. Ainda sem rosto.
— Sonhos também são mapas — disse Gaia, sem debochar. — E mapa bom não grita. Mostra a curva quando você precisa.
Camila entrou sem bater, o salto batendo impaciente no piso. O batom era um rubi agressivo. — Bom dia, estrelas. Fiquei sabendo que hoje a “Selvagem” tem rodada tripla. Lista restrita e mesa lateral. — Sorriu de um jeito que não era jóia, era lâmina. — V