O relógio do gabinete de Eduardo marcava quase dez da noite quando Aline entrou, carregando uma pasta volumosa. A luz amarelada do abajur criava um halo em torno das pilhas de processos, e o ar tinha o cheiro antigo de papel e café frio. O juiz, já debruçado sobre anotações dispersas, ergueu o olhar cansado. Mesmo afastado oficialmente, ele não conseguia largar de vez aquele caso: a verdade parecia puxá-lo de volta pela gola.
— Trouxe o relatório do investigador — disse Aline, colocando a pasta sobre a mesa com o cuidado de quem deposita um explosivo. — Pediu pra você olhar com calma.
Eduardo abriu o material. No topo, carimbos apagados e trechos de transcrições de escutas antigas. Folheou até que um nome, repetido várias vezes, chamou sua atenção: Deputado Azevedo. Aquele velho vulto do clube — vaidoso, sempre com um gravador de bolso disfarçado de caneta.
— Ele de novo… — murmurou, como quem reconhece uma sombra antiga que nunca foi embora.
Aline assentiu. — As escutas vinham de uma