O amanhecer trouxe um frio fino e um jornal amassado contra o portão. A casa parecia ter encolhido durante a noite, guardando dentro das paredes a respiração de quem não dormiu inteiro. Eduardo acordou antes do despertador e ficou deitado um momento, ouvindo o silêncio. Não era um silêncio limpo; tinha costuras de passos contidos, de vozes que não ousavam virar som. Levantou, vestiu a camisa, ajeitou o curativo do ombro e foi para a cozinha. O abajur acendeu com um estalo tímido.
Vivian chegou poucos minutos depois, com um moletom largo e o cabelo preso de qualquer jeito. O rosto tinha aquela beleza de quem aguentou a noite do lado de dentro. Sorriu de leve quando o viu mexendo no café.
— Notícias? — perguntou, sem pressa, mas sem fôlego.
— Aline mandou mensagem às cinco e quarenta. O promotor entrou com o pedido de busca e apreensão. Caiu com uma juíza técnica, discreta. Boa notícia. — Ele hesitou um segundo. — O ofício foi deferido agora. Amanhecemos com os mandados.
Vivian assentiu