A biblioteca municipal parecia um navio antigo ancorado no centro da cidade: janelas altas, poeira de luz passando entre as prateleiras e aquele cheiro de papel que acalma o peito. Aline escolheu o lugar exatamente por isso — movimento suficiente para diluir presenças, silêncio suficiente para ouvir qualquer ruído fora do padrão. No mural, um cartaz meio torto anunciava “Clube de Leitura – Sábado, 16h”. Era quarta-feira. Bom sinal. Menos gente.
Vivian entrou com passos pequenos, o casaco leve fechado até o pescoço. Trazia debaixo do braço um volume de capa azul, o mesmo que Aline recebera da vizinha: um romance clássico, lombada gasta, etiqueta com números a lápis na segunda página. O marcador de papel, com dois riscos cruzando, aguardava onde devia estar: entre o capítulo nove e o dez. “Local e hora no verso.” Local: ala de História Local. Hora: 11h15.
No relógio da parede, faltavam cinco minutos. Vivian sentiu a garganta apertar e respirou como Aline lhe ensinara — quatro tempos par