A delegacia tinha cheiro de papel úmido e café passado demais. O corredor era um aquário de azulejos frios, onde passos viravam ecos sem dono. Ciça entrou com o queixo erguido, as mãos inquietas dentro dos bolsos da jaqueta. Aline caminhava ao lado, discreta; Eduardo vinha logo atrás, em silêncio de juiz fora de sala — o silêncio que pesa mais que qualquer martelo.
A sala de interrogatório era pequena, uma mesa, duas cadeiras e uma lâmpada que chiava. O gravador foi colocado no centro, como um coração mecânico. Um escrivão ajeitou o microfone, o promotor ajustou os óculos e disse: — Quando quiser.
Ciça respirou, uma vez só, longa. — Meu nome é Cecília Souza da Silva. Fui funcionária terceirizada em dois escritórios “de fachada” que alimentavam listas de “favores” para um grupo que vocês chamam de cartel. — O rosto dela não tremeu. — Eles chamavam de “a rede”.
As primeiras perguntas vieram técnicas: datas, endereços, pseudônimos. Depois, os nomes começaram a surgir, como pedras no fund