O primeiro feixe de luz entrou pela fresta do telhado como uma lâmina pálida. A capela, vazia de santos e cheia de ecos, cheirava a cal antiga e madeira úmida. Aline foi quem acordou primeiro; não por sono cumprido, mas por hábito. Moveu-se em silêncio, tocando cada ponto de vigia que traçara na noite anterior: a fresta da janela lateral, a porta que range um pouco antes de abrir, o canto onde o pó denuncia pegadas. Nada. Ainda nada.
Vivian continuava com a cabeça no ombro de Eduardo, o corpo finalmente pesado de cansaço, febre a meio mastro, respirando compassado como quem encontrou um lugar seguro para cair. Eduardo não dormira inteiro: alternava vigília e pensamento, repetindo a frase como quem pressiona uma ferida para lembrar que está vivo — promessas de cinzas, estrada aberta.
Um ruído baixo veio do lado de fora. Não de pneus, não de metal, mas de passos conhecidos. Aline ergueu o indicador, pedindo silêncio, e aproximou-se da fenda. O homem no pátio tirou o capuz e levantou as