O Jogo da Espera

POV Cecília

Esperei. Esperei tanto que até perdi a conta dos minutos.

O almoço já havia se transformado em um jantar tardio, mas eu não arredaria o pé. Não sou mulher de desistir. Muito menos quando sei o que quero.

E eu quero Felipe.

Sou Cecília Florian , filha do Alfa Augustus Florian. Cresci em meio a negociações, acordos e alianças que mantêm famílias inteiras no poder. Sempre entendi que o mundo mudou: a força bruta, as guerras de alcatéia, tudo isso já não define mais quem é o mais forte. Hoje, poder se mede por influência, estratégia e prosperidade.

E nisso, Felipe não tem igual.

Me ajeitei discretamente na poltrona, observando cada detalhe ao redor. Estava impecavelmente vestida: um vestido de seda azul escuro, justo o suficiente para realçar minhas curvas, mas sofisticado para uma ocasião de família. A fenda lateral mostrava a medida certa de ousadia, e o decote discreto deixava claro que eu não tinha medo de ser notada. Loira, de cabelos lisos perfeitamente arrumados sobre os ombros, olhos azuis firmes e atentos, expressão afiada. Eu era o retrato de uma mulher segura de si — e queria que Felipe me visse exatamente assim.

Meu pai, Augustus, parecia satisfeito com minha escolha de permanecer. Ele sempre soube que eu não dava passos em falso. “Estratégia é tudo”, dizia. E eu concordo. Permanecer ali, entre conversas triviais, mantendo a paciência, era parte do meu plano. Ele chegaria. E quando chegasse, valeria cada segundo.

Quando a porta finalmente se abriu e Felipe entrou, senti o coração acelerar mas mantive a postura. Mulheres como eu não se deixam dominar por nervosismo. Nós controlamos o ambiente.

E lá estava ele.

Felipe era ainda mais imponente do que eu lembrava. Alto, ombros largos, porte elegante. A aura de Alfa que simplesmente não podia ser ignorada. Os cabelos castanhos, com aquele brilho dourado sob a luz, pareciam feitos para chamar atenção. Mas eram seus olhos verdes, intensos e sérios, que cortavam o ambiente como lâminas. Vestia um terno escuro que o deixava ainda mais sofisticado, reforçando a imagem do homem de negócios, poderoso e inatingível.

Sim. Valera a pena esperar.

“Ele é meu”, pensei, com convicção. Não por impulso, mas por escolha. E escolhas, eu sempre as sustento até o fim.

Levantei-me para cumprimentá-lo. Meus passos foram medidos, cada gesto calculado. Quando estendi a mão, toquei levemente seu braço, sustentando o contato por mais tempo do que o necessário. Queria que ele sentisse minha presença, que percebesse que eu não era apenas mais uma convidada, mas alguém disposta a estar ao lado dele.

— Felipe… que bom que conseguiu vir. — Sorri com confiança, o tipo de sorriso que mistura charme e intenção.

Ele correspondeu educadamente, mas de forma contida. Não havia brilho em seu olhar ao me encarar. Era como se estivesse em outro lugar, distante, mesmo estando diante de mim. Isso não me desanimou. Pelo contrário: desafios sempre me atraíram.

Enquanto trocávamos frases curtas, percebi a mãe dele, sentada mais adiante, observando discretamente. Uma mulher elegante, postura firme, sorriso cortês. Mas seus olhos… eles não enganavam. A cada interação minha com Felipe, ela parecia analisar não apenas a mim, mas principalmente a ele.

E eu vi. Vi o incômodo sutil, a apreensão contida. Como se ela soubesse que algo não estava certo.

Ela foi simpática comigo, claro, como uma boa anfitriã deveria ser. Conversou, elogiou meu vestido, mostrou-se acolhedora. Mas por trás do sorriso, havia algo que a perturbava. Era como se estivesse preocupada com o filho não comigo, mas com a falta de entusiasmo dele.

E, de fato, ele não parecia animado. Respeitoso, sim. Educado, sempre. Mas não havia faísca em seu olhar. Nenhuma centelha de interesse real.

Eu notei. E ela também.

Mas eu não recuo.

Sentei-me ao lado dele, aproveitando cada brecha para aproximar nossa conversa. Perguntei sobre os negócios, sobre viagens recentes, sobre as novas expansões da rede de tecnologia. Ele respondeu com firmeza, mas sem se aprofundar. Como se não quisesse se abrir. Isso apenas reforçava em mim a necessidade de conquistá-lo.

No outro canto da sala, meu pai e o dele conversavam animadamente. Augustus falava de novos acordos comerciais, comentava sobre a força de nossa matilha e a importância de manter alianças sólidas. O pai de Felipe, sério, mas receptivo, respondia com cautela.

— É impressionante como o mercado tem mudado… — ouvi meu pai dizer. — Hoje, quem controla tecnologia, controla tudo.

Felipe, mesmo distraído, assentiu brevemente. Eu aproveitei para retomar o tema.

— E ninguém entende de tecnologia como você, Felipe. Sua visão está anos à frente. — Toquei novamente o braço dele, desta vez mais breve, mas proposital.

Ele apenas inclinou a cabeça em agradecimento, sem o menor traço de vaidade ou satisfação. Eu esperava pelo menos um sorriso, mas não recebi nada além de formalidade. Ainda assim, não me deixei abalar.

A mãe dele, por outro lado, observava tudo em silêncio. Eu podia sentir seu olhar sobre nós, pesado, como se esperasse que algo acontecesse ou como se soubesse que nada aconteceria. Aquela falta de reciprocidade de Felipe parecia deixá-la inquieta, e, de certa forma, quase me incomodava também.

Continuei tentando. Fiz perguntas, compartilhei histórias engraçadas de negócios, deixei escapar pequenos detalhes sobre meus próprios projetos para mostrar que não era apenas “a filha do Alfa Augustus”, mas uma mulher de valor por conta própria. Eu queria que Felipe visse isso.

Mas ele permanecia distante, cordial, sem emoção.

“Tudo bem”, pensei. “Não é no primeiro encontro que se conquista um Alfa como ele. Mas eu sei jogar esse jogo. E no fim, vou vencer.”

A noite avançava, a conversa entre nossos pais seguia com naturalidade. Havia risadas, trocas de experiências, planos de futuros encontros. Tudo perfeito no papel. Mas no olhar de Felipe, eu só via um muro. E no olhar da mãe dele, via a confirmação: ela sabia que havia algo errado. Que o filho estava em outro lugar, pensando em algo ou alguém.

E, mesmo assim, eu me mantinha firme. Porque se tem algo que aprendi com meu pai é que paciência é tão importante quanto ousadia.

Felipe pode não ter sorrido para mim hoje. Pode ter se mostrado distante. Mas eu sou Cecília, filha de Augustus. Inteligente, estrategista, segura de mim. Eu quero esse Alfa.

E, cedo ou tarde, ele será meu.

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