POV Alice
Alice estava no hospital, sentada na pequena sala de descanso, vestindo o jaleco branco ainda um pouco amassado. A mente não parava de girar. Estava se preparando para ir para casa, mas, por algum motivo, ela sentia que algo essencial estava fora de lugar. Um vazio que não conseguia nomear. Liandra entrou com seu sorriso sereno, trazendo o calor de uma presença conhecida. Sentou-se ao lado de Alice, como sempre fazia, e percebeu imediatamente que a amiga não estava bem. — O que foi, Alice? — perguntou Liandra, com aquela calma que sempre parecia capaz de equilibrar qualquer tempestade interna. Alice suspirou, incapaz de colocar em palavras o que sentia. — Eu… não sei explicar — começou, a voz trêmula. — Tive um sonho estranho… e desde então não consigo parar de pensar. É como se houvesse alguém… alguém que eu deveria conhecer, mas não conheço. — Ela fechou os olhos, frustrada. — E eu sinto… um cheiro… uma presença, algo que me atrai, e ao mesmo tempo, sinto falta. Uma falta que não sei definir. Liandra ficou em silêncio, apenas observando. Não precisava responder, não havia palavras que pudessem esclarecer o que Alice sentia. — É irritante… — Alice continuou, com os dedos entrelaçados nervosamente. — Eu não sei o que é… é como se algo estivesse faltando dentro de mim. Mas não consigo dizer exatamente o que. Me deixa triste, me deixa confusa… e eu odeio me sentir assim. Liandra tocou suavemente a mão de Alice, um gesto de amizade simples, sem nenhuma explicação além do apoio. — Eu entendo… — disse Liandra, com voz firme e tranquila. — Às vezes, a gente sente coisas que não consegue explicar. E isso é normal. Alice respirou fundo, tentando aceitar, mas o vazio continuava. Uma pontada de frustração percorreu seu peito. Ela queria compreender, mas não conseguia. Tudo parecia tão próximo e tão distante ao mesmo tempo. — Eu queria entender… — murmurou Alice. — Mas não consigo. É tão confuso. Eu sinto algo, mas não sei se é real, ou apenas uma impressão do sonho. Liandra apenas sorriu, sem oferecer explicações que pudessem confundir ainda mais Alice. Ela sabia que, por enquanto, a amiga humana precisava apenas sentir que não estava sozinha. Alice assentiu lentamente, tentando organizar seus pensamentos. Mas no fundo, a sensação de falta continuava, como um espaço invisível que ninguém podia preencher. Ela sabia que havia algo ali, algo que estava esperando para ser encontrado, mas não tinha ideia do que era e isso a deixava profundamente inquieta. POV Felipe Enquanto isso, em outro ponto da cidade, Felipe saía do banho. A água quente havia relaxado seus músculos, mas não conseguia dissipar o peso que sentia. Envolto apenas em uma toalha, dirigiu-se ao quarto, pronto para vestir-se, mas algo inesperado interrompeu seus movimentos. A mãe dele estava lá, parada, observando cada gesto com aquela atenção típica de quem conhece o filho há toda a vida. — Filho… — disse ela, com cuidado. — Tem algo errado, eu posso ver nos seus olhos. O que está acontecendo com você? Felipe manteve o olhar firme, mantendo a postura habitual. Não podia ceder, não agora. — Nada, mãe. Só o trabalho… muito para dar conta. Mas ela não se deixou enganar. Um leve franzir de sobrancelhas, um olhar mais atento. Ela percebeu imediatamente que havia algo mais profundo, algo que ele não queria revelar. — Felipe… eu te conheço. Sei quando algo não está certo. Tem alguma coisa te preocupando. — Sua voz era doce, mas carregada de preocupação. — Eu não sei o que é, mas posso sentir. Ele tentou um sorriso breve, contido, mas não disse mais. O silêncio entre eles falava tanto quanto qualquer palavra. Felipe sabia que a mãe jamais compreenderia o que realmente o afligia: a descoberta de sua companheira, algo que ele não podia revelar, e a intensidade de sentimentos que não conseguia controlar. A mãe de Felipe, com o coração apertado, aproximou-se um pouco, mas respeitando seu espaço. — Filho… você sempre foi forte. Mas algo mudou. Eu sinto isso. E mesmo sem saber, sei que você está lutando com algo que não quer me contar. — Ela suspirou, a voz embargada. — Eu não quero pressionar, só quero que saiba que estou aqui. Sempre. Felipe assentiu, mantendo a postura estoica que sempre o caracterizou. Um gesto de carinho silencioso, um toque de mão, e o restante ficou guardado. O silêncio que se seguiu era carregado de significados não ditos. A mãe dele sabia que algo estava errado, mas respeitava o espaço do filho. Ela continuava ali, esperando pacientemente, com a intuição de mãe, percebendo que Felipe guardava segredos que ninguém mais poderia compreender. Felipe olhou pela janela, o olhar distante. Sabia que sua vida estava prestes a mudar, que algo grande estava se aproximando, algo que nem a mãe, nem ele mesmo, poderiam controlar totalmente. Um sentimento intenso que ele ainda não conseguia nomear começava a crescer, e mesmo tentando ignorar, sabia que não poderia permanecer assim por muito tempo. A tensão no ar era palpável, mas a presença silenciosa da mãe funcionava como âncora, lembrando-o de que mesmo no caos de seus sentimentos, havia alguém que o amava e tentava compreender, mesmo sem respostas.