“O perigo não está no que ele sabe. Está no que ele é capaz de me fazer lembrar.” — Anotação de R.
Cheguei à praça às 17h56.
O sol, já cansado, se arrastava pelo horizonte, espalhando um dourado oblíquo que parecia rir de mim — um riso lento, quase cruel.
O café abrigava apenas meia dúzia de almas dispersas: duas adolescentes de uniforme, inclinadas uma para a outra, dividindo um milk-shake como se o mundo inteiro coubesse naquele copo; um senhor escondido atrás de um jornal amarelado, virando as páginas com a paciência de quem não espera nada; e uma mulher de jaleco branco, o cansaço estampado nos ombros, talvez recém-saída ou prestes a entrar no Santa Albina.
Ele não estava.
Escolhi uma mesa externa, estrategicamente voltada para o hospital, mas com a rota de fuga clara pela rua lateral. Encostei-me à cadeira de costas para a parede de vidro, sentindo o reflexo quente do sol nas omoplatas. Era um hábito antigo — desses que a gente adquire quando aprende, cedo demais, que é preciso v