“Há reconhecimentos que só o corpo registra.” — (Anotação de R.)
A sala da Dra. Iasmim tem a luz certa de quem sabe que memória é pele: lisa, sem sombras que inventem monstros, mas com cantos suficientes para o que existe se revelar sem pressa. O álcool do algodão chega primeiro, depois se dissipa; um rastro de jasmim toma o lugar como se tivesse sido chamado pelo meu corpo. Talvez tenha sido.
— Palavra de interrupção? — ela pergunta, a caneta pousada num bloco que não julga.
— Cedro.
Ela assente. O relógio silencioso atrás dela não marca urgência; marca ritmo. Eu fecho os olhos. O ar fica mais denso, como água morna. Ouço minha própria respiração ganhando distância, alargando o espaço entre uma inspiração e outra até caber dentro do vácuo onde a lembrança vive.
— Entra — a voz de Iasmim vem de longe, pequena âncora.
Eu entro.
...
O corredor da Casa aparece primeiro como brilho: ouro baixo, fosco, o tipo que gruda na superfície e engana a fome. O chão encerado aceita os passos como qu