“Às vezes o passado não volta: ele envia recados.” — (Anotação de R.)
Abro os olhos com a lentidão de quem emerge de água profunda, ainda sem ter certeza se quer voltar à superfície.
A luz da sala da Dra. Iasmim é gentil, não agressiva — projetada especificamente para não machucar retinas sensíveis de quem acabou de voltar de lugares escuros. O relógio silencioso na parede não me expulsa do tempo com urgência; apenas marca, paciente, que o mundo continuou girando enquanto eu estava ausente.
O algodão embebido em álcool que ela tinha usado antes da sessão já não tem cheiro — ou talvez meu olfato tenha se esgotado. Mas o jasmim, esse ficou grudado nas minhas narinas como resíduo persistente, como fumaça que se recusa a dissipar completamente.
— Água? — Ela oferece com voz modulada na frequência exata entre cuidado e profissionalismo.
Aceito o copo com mãos que ainda não estão completamente minhas. A garganta agradece com uma descida suave, sem arranhões, sem resistência. Meus dedos trem