“A pergunta mais importante não exige luz para ser feita. Apenas coragem para esperar a resposta.” — (Anotação de R.)
(...)
Não consegui ver quem era. Mas senti — Deus, como senti. Cada célula do meu corpo entrou em alerta máximo, como se uma parte ancestral de mim reconhecesse algo que minha mente consciente ainda não podia nomear. O ar mudou de textura, ficou denso, carregado de uma presença que não era minha. Minha pele arrepiou em ondas, desde a nuca até os braços, num reconhecimento que vinha de algum lugar mais profundo que a memória.
Eu não estava mais sozinha. Alguém havia entrado no quarto.
— Posso?
A voz veio tão baixa que quase não era voz — mais um suspiro carregado de hesitação. Não era demanda. Não era ordem. Era pedido. Era entrega. Aquela única palavra, suspensa no escuro entre nós, parecia devolver a mim um controle que eu achava ter perdido ao subir aquelas escadas.
Posso?
A pergunta ecoou dentro de mim, ricocheteando contra as paredes do meu peito, do meu estômago,