“Me ensinaram a entrar sem pedir licença; o resto, aprendi lendo olhos.” — Anotação de R.
Após alguns dias, retornei para mais uma sessão de hipnose. A voz da Dra. Iasmim flutuava ao fundo, como uma melodia distante, preenchendo o espaço com uma calma quase hipnótica.
Mergulhei mais fundo em minhas memórias, e a casa, como se viva fosse, revelou outra porta.
Dezoito anos. A seda já não me era estranha; parecia moldar-se a mim, cúmplice. Os saltos, antes hesitantes, agora dançavam em harmonia com os tapetes densos, como se tivessem aprendido o segredo do lugar.
Aurélia, com a precisão de quem carimba um passaporte, deslizou o batom sobre os lábios, um gesto tão natural quanto respirar.
— Hoje, você é Sofia — anunciou, sem ênfase, mas com uma certeza que reverberava. — Jantar íntimo. O anfitrião aprecia nomes que deslizam suavemente pela língua.
Havia algo no tom dela, algo que não precisava ser dito, mas que preenchia o ar com uma tensão sutil, como se cada palavra fosse um fio puxando