* Dayse entrou em casa sem acender as luzes. A penumbra da sala a envolvia com um calor estranho, mais humano do que a luz fria e indiferente do restaurante onde passara quase duas horas esperando por Enzo. Largou a bolsa no sofá, tirou os sapatos e deixou o corpo afundar na poltrona, como se quisesse desaparecer entre as almofadas.
Ela não chorou. Talvez fosse pior assim — esse vazio seco e oco no peito, um latejar surdo que reverberava por dentro, consumindo cada pedaço de esperança que ainda restava.
— “Ele não mandou uma única mensagem. Nem um aviso. Nem uma desculpa.” — a revolta crescia como uma chama que queimava silenciosamente, mas implacável.
E, quando finalmente apareceu, com aquela cara de pau, a camisa manchada de batom como um insulto escancarado à sua dignidade, ela sentiu o mundo desmoronar.
No fundo, muito no fundo, ela já sabia. Desde o primeiro minuto de atraso, sem uma palavra sequer, o estalo dentro dela já havia acontecido. A certeza amarga de que algo estava irr