O silêncio da casa no meio da tarde era uma bênção rara. Giulia tinha acabado de sair com o pai — um passeio rápido até a livraria para comprar um livro novo para o projeto de leitura da escola. Eu tinha ficado para trás por escolha própria. Queria lavar o cabelo com calma, organizar as coisas da semana e, principalmente, ligar para o Brasil.
Fazia alguns dias que minha mãe não mandava nenhuma mensagem, o que, no nosso caso, sempre era um mau sinal. Ou ela estava sobrecarregada com os turnos no hospital, ou... algo tinha acontecido com meu pai.
Sentei no sofá da varanda com o celular nas mãos, as pernas cruzadas, o coração já em descompasso. Liguei. Ela atendeu no terceiro toque.
— Isa, filha!
A voz dela tinha aquele calor familiar, mas algo no tom me pareceu hesitante. Mãe sempre sente.
— Oi, mãe. Tá tudo bem por aí?
Ela suspirou do outro lado da linha. E foi nesse suspiro que eu soube que alguma coisa tinha mudado.
— Eu ia te ligar hoje. Não queria te preocupar antes...
— Aconteceu a