A chuva cai fina lá fora, um som constante contra o vidro que parece marcar o compasso do meu próprio coração. A manhã mal clareou, e o quarto ainda está tomado por uma penumbra calma, o lençol amarrotado, o perfume dela no ar. O peso da noite ainda paira sobre mim — não só o corpo dela, agora encolhido ao meu lado, mas tudo o que fizemos sem pensar.
Um toque seco na porta me desperta da imobilidade. Lourdes.
— Senhor Rodolfo? — a voz dela atravessa o corredor. — O doutor Daniel chegou. Está na sala.
Por um instante, o nome me traz de volta à realidade como um soco. O advogado. A audiência. Marina. Tudo o que vem depois dessa manhã.
— Diga a ele que desço em meia hora — respondo, a voz rouca, o corpo pesado.
Ouço o som dos passos se afastando. Então viro a cabeça. Serena já está sentada à beira da cama, os cabelos caindo em ondas sobre o ombro, o lençol escorregando pelas costas nuas. Ela parece menor ali, quase frágil, os dedos trêmulos procurando as roupas espalhadas pelo chão.
— On