O som da porta se fechando atrás de Serena ainda ecoa no quarto mesmo depois que ela vai embora. Fico um tempo parado, tentando me convencer de que fiz a coisa certa — deixá-la ir, deixar tudo respirar. Mas o ar parece mais pesado sem ela ali.
Puxo uma camisa limpa, passo a mão pelos cabelos e tento deixar a noite anterior num canto da mente. É inútil. O perfume dela ainda está no lençol, no travesseiro, em mim.
Quando desço, Lourdes já está na sala servindo café. Daniel está sentado no sofá, o mesmo ar sereno e calculista de sempre, o terno escuro perfeitamente alinhado. Ele levanta assim que me vê.
— Achei que tivesse esquecido de mim — diz, com um meio sorriso. — Meia hora virou uma eternidade, Rodolfo.
— Dormi pouco — respondo, sentando à frente dele. — Vamos pro escritório, lá a gente fala melhor.
Ele me segue em silêncio. No caminho, percebo o quanto o casarão está quieto. Clara ainda dorme, e a chuva fina continua caindo do lado de fora, lavando o jardim. Abro a porta do escrit