A rotina na cobertura havia mudado mais do que eu podia admitir.
As risadas de Clara ecoavam pelos cômodos como um lembrete constante de que, por um milagre qualquer, a casa tinha voltado a respirar. Desde que Serena cruzou aquela porta, a solidão parecia menos cruel. Clara dormia melhor, se alimentava sem reclamar e voltava da escola com histórias que misturavam princesas e feiras de ciências.
Eu ainda me pegava observando as duas, às vezes escondido atrás da porta do quarto, e via como minha filha se encaixava perfeitamente nos braços de Serena, como se aquele espaço tivesse sido feito sob medida para ela. E isso me feria e confortava ao mesmo tempo.
Mas hoje não havia espaço para ternura.
Hoje o passado vinha bater à porta.
O elevador abriu direto na garagem privativa da empresa, e eu me forcei a respirar fundo antes de entrar no prédio. Daniel já me esperava na recepção, a expressão carregada. Seu olhar dizia tudo o que eu não queria ouvir.
— Ela está aqui. — foram as únicas palav