A chuva tinha voltado. Fraca, constante, batendo contra as janelas como se quisesse avisar alguma coisa.
Eu estava no andar de cima, achando que Rodolfo e o amigo já tinham ido embora. Clara dormia profundamente no sofá, os cabelos grudados na testa e o lençol subindo e descendo devagar com a respiração calma.
Desliguei a televisão e me levantei devagar, tentando não fazer barulho, mas quando passei perto da escada, ouvi as vozes vindas do andar de baixo.
Não era o tom leve de uma conversa qualquer.
Era grave, denso.
Reconheci a voz de Rodolfo primeiro.
— …não vai haver acordo, Gustavo. — A frase veio firme, cortante. — Ela não vai se aproximar da minha filha de novo.
Meu coração disparou.
A filha dele. Marina.
Eu não devia ouvir. Sabia que não devia. Mas minhas pernas travaram.
Desci dois degraus, me mantendo na penumbra, escondida pela parede. A luz da sala refletia parcialmente, e a voz do outro homem soou, mais baixa, mais cautelosa.
— Rodolfo, eu entendo, mas o advogado dela foi