O som suave da respiração de Clara é a primeira coisa que escuto ao despertar. O quarto ainda está mergulhado na penumbra da manhã, a luz filtrando pelas cortinas com a calma de um sábado preguiçoso. Por um instante, fico apenas observando minha filha dormir — o rosto tranquilo, os cabelos espalhados pelo travesseiro, as mãos pequenas segurando o ursinho que Serena lhe deu na noite anterior. Há algo de quase sagrado nesse silêncio, uma paz que raramente encontro fora daqui.
Ajeito o cobertor sobre ela e me levanto com cuidado, tentando não fazer barulho. O chão de madeira range levemente, denunciando meus passos, e eu prendo a respiração como se o mundo pudesse desmoronar caso ela despertasse. Mas Clara continua imóvel, perdida em seus sonhos.
O relógio sobre a cômoda marca seis e quarenta. É sábado, e mesmo assim preciso passar na empresa. Algumas pendências urgentes, relatórios que não posso deixar para segunda. Por mais que Lourdes diga que eu deveria descansar, é difícil desligar.