Eu sempre gostei de casas silenciosas — até o silêncio dessa me assustar um pouco. Desde o almoço, Lourdes vinha me guiando pelos cômodos, explicando os detalhes da rotina de Clara com uma precisão quase militar. À tarde, ela me chamou no corredor e anunciou com a calma de quem estava acostumada com tudo:
— Serena, vamos buscar a menina na escola.
Agora, horas depois, eu me encontrava no quarto de Clara, ajudando a pequena a tirar a blusa do uniforme. Lourdes estava por perto, observando com aquele olhar de supervisão maternal.
— Pode deixar, Lourdes, eu consigo — murmurei, tentando soar confiante enquanto Clara ria.
— Eu sei, querida, mas gosto de garantir que a senhorita Clara não fuja do banho — ela respondeu, rindo também.
A menina de dez anos me olhou com um sorriso maroto.
— Eu nunca fujo! Só às vezes, quando está muito frio.
A risada das duas encheu o quarto, quebrando o clima de formalidade que o duplex impunha. O banheiro de Clara parecia uma miniatura encantada: azulejos azu