Não sei bem o que me fez convidá-la para jantar. Talvez a culpa, talvez o silêncio da casa, ou talvez aquele olhar surpreso dela no corredor, como se o destino estivesse brincando comigo.
O cheiro de alho dourando na frigideira preencheu a cozinha, e por um segundo, percebi o quanto fazia tempo que alguém cozinhava ali.
Eu não tinha o hábito de jantar em casa. A rotina me engolia entre reuniões, relatórios e contratos que pareciam nunca ter fim. Mas agora, sentado à bancada, observando Serena mexer a colher com leveza, o apartamento parecia... diferente. Vivo, talvez.
— Não precisava cozinhar — comentei, cruzando os braços. — Lourdes poderia preparar algo.
Ela deu de ombros, concentrada no molho.
— Eu quis. Cozinhar me relaxa. Além disso, é só macarrão. Não sei se seu paladar refinado vai aprovar — disse com um sorriso provocador.
— Eu não sou tão exigente assim.
— Você parece ser o tipo que reclama se o prato vier com a massa passada.
— E você parece o tipo que sempre contesta tudo o