A cafeteria do hospital nunca foi um lugar acolhedor. O cheiro de café requentado se mistura ao de comida industrializada, e o som das máquinas ao fundo me irrita ainda mais. Eu me sento perto da janela, com a xícara intacta diante de mim, observando as gotas de chuva que escorrem pelo vidro.
Tenho passado noites demais em claro, esperando Giulia. O corpo cobra, a mente lateja, mas o coração não me deixa descansar. Ainda posso sentir o peso da mão dela na minha, mesmo quando ela dorme. E, agora, que finalmente abriu os olhos, a vida decidiu me arrancar outra parte: ela não se lembra de mim.
A cada vez que penso nisso, sinto o chão se abrir sob meus pés.
— Noah. — a voz de Miguel me chama de repente.
Levanto o rosto e vejo-o entrar, acompanhado por um homem de meia-idade, com porte firme e olhar calculista. Seu terno escuro está impecável, e a pasta de couro que carrega parece mais pesada do que realmente é.
Atrás deles, um delegado espanhol se aproxima, cumprimentando-nos com seriedad