Mundo de ficçãoIniciar sessãoNIKOLAI VOLKOV
Assenti àquele casamento amaldiçoado diante de todos, com a raiva não como um fogo, mas como uma lâmina gelada encostada na minha própria garganta. Eles pensaram que me dobraram. Vi nos olhos deles — no sorriso de hiena de Richard, no brilho de triunfo nos olhos de Victoria — a convicção de que eu havia me tornado um fantoche. Um cão domesticado pela conveniência. Engano fatal. Eles não me conheciam. Mas conheceriam. Assim que Richard se aproximou, com aquele sorriso oleoso de quem acredita ter vencido, agarrei o braço de Angeline. Não foi um gesto de união, mas de posse. De marcação de território. Através da fina manga do vestido, senti a fragilidade dos ossos dela, o tremor quase imperceptível. Mas não nasceu ali um pingo de compaixão. Apenas um desprezo mais profundo. Aos meus olhos, ela não era vítima. Era cúmplice. A peça "inocente" e conveniente na farsa urdida por Victoria. Talvez até a mentira fosse dela — a deformada que viu na armadilha a sua única chance de ascensão. Que ela pague também, pensei, com uma frieza que vinha dos lugares mais escuros da minha alma. Se foi usada, forjou ou apenas permitiu… cada gota do preço será cobrada. Enquanto as palavras vazias do padre naquela maldita igreja selavam o alicerce podre daquele casamento, eu fiz o meu próprio juramento, silencioso e mortal. Jurei por tudo que era meu, por todo o sangue que já derramei para chegar onde estou: haveria vingança para Richard. Para Elizabeth. Para Victoria. E para ela, se fosse necessário. O jogo deles havia terminado. O meu maldito reinado só começava. Quando Richard nos viu entrar, olhou para o meu pai e para mim, dizendo: —Viva os noivos! Algumas palmas das esposas dos homens da cúpula foram ouvidas, mas logo substituídas por silêncio quando viram meu olhar carregado na direção de todos. Mas Richard continuou seu espetáculo, me ignorando por completo, fazendo meu sangue ferver, e disse a todos: —Vamos abrir e servir o melhor champanhe da casa para comemorar a união dos Harrington com os Valkov! Olhando nos olhos dele, disse: —Ainda não, Richard. Guarde a sua maldita champanhe para estourar no dia do seu velório. Primeiro, preciso provar a toda cúpula que sempre estive limpo em todo esse circo. — Mas o que é que você está falando? — Richard não entendeu. — Existe uma tradição antiga, Richard. Uma que pode provar a inocência de uma mulher ou, nesse caso, de um homem. Ou já esqueceu dela? — Falei com desprezo. Nesse momento, vi ele ficar lívido. O silêncio na sala de estar dos Harrington era pesado como uma tumba. Todos os olhos estavam fixos em mim, esperando o desfecho daquela farsa. — E vou provar agora mesmo que nunca menti. Sem mais palavras, agarrei o braço de Angeline — não um toque, mas uma possessão — e a arrastei escada acima em direção aos aposentos. Ela tropeçou, aterrorizada, o véu ainda cobrindo seu rosto, mas meus dedos não cederam. A multidão de abutres nos observava, faminta pelo espetáculo. A atmosfera que ficou no salão agora era tensa e carregada de uma expectativa perversa. Todos sabiam qual ritual se seguiria. Era a tradição arcaica, o teste bárbaro que selaria minha "culpa" ou "inocência" perante os abutres. E, pelo olhar dos Harrington, vi que eles ficaram apreensivos. Enquanto segurava o braço de Angeline com uma firmeza que não admitia resistência e a conduzia escada acima, sentia os olhos daquele enxame de mafiosos queimando as nossas costas, ávidos pelo espetáculo. Lá em cima, me virei e disse: —Apenas esperem aqui — ordenei, minha voz um corte limpo no ar, antes de fechar a porta do quarto na cara de todos. Fechei a porta do quarto com um baque seco, isolando-nos. Ela ficou parada no centro, imóvel, o véu ainda cobrindo seu rosto, mas todo o seu corpo tremia como uma folha no inverno. Lá dentro, ela estava imóvel. O véu ainda a cobria, um fantasma trêmulo e patético. Seu coração batia tão forte que eu quase podia ouvir o ritmo acelerado de seu pavor. Virei-me para ela. Meu olhar era de puro aço, e cada palavra que saiu da minha boca foi lascada em gelo: —Você é virgem, não é, sua idiota? A pergunta não era um sussurro, era uma exigência. Um requisito para o espetáculo que estava prestes a começar. Ela, envergonhada e aterrorizada, anuiu, balançando a cabeça num movimento quase imperceptível de confirmação e terror. Foi o suficiente. O único consentimento que eu precisei — ou, na verdade, ignorei. Minhas mãos foram rápidas e brutais. Meus dedos trabalharam o cinto com uma frieza metódica, o metal rangendo. Abri o botão da calça e, sem qualquer cerimônia, puxei a calcinha dela. O tecido rasgou sob a força bruta. Ela tentou se encolher, um gemido escapando de seus lábios: —Por favor… não… Ignorei. Empurrei-a contra a cama e a penetrei num único movimento seco e cruel. Aquilo para mim não era um ato de posse ou violência, mas sim de prova — nada de desejo, nada de prazer. A dor dela era um fato físico, não uma emoção. Ela gritou, um som abafado e dilacerante, e suas unhas cravaram-se nos lençóis. — Pare… por favor, pare… Saí de dentro dela de repente, terminando o ato sobre o colchão, sem um olhar para seu corpo contraído. Ela se encolheu, chorando em silêncio, enquanto eu me recompunha com a mesma frieza com que entrara. Levantei-me, ajustando as roupas como se nada tivesse acontecido. Angeline ficou encolhida na cama, as lágrimas silenciosas escorrendo por baixo do véu. — Fique aqui — ordenei, minha voz impassível. Meus olhos pousaram no lençol manchado — sangue e sêmen, a prova tangível da inocência que me roubaram. Aproximei-me da cama e peguei o lençol. Sem hesitar, abri a porta para o corredor. Enrolei o tecido com movimentos precisos e saí do quarto, deixando-a ali, quebrada. E desci a escada indo em direção a sala de estar, onde a plateia macabra aguardava. Todos ainda estavam em suspense, e quando retornei, todos os olhares se voltaram para mim, e então, com um gesto calculado e carregado de ódio, joguei o lençol sujo no centro da mesa, onde ele se desenrolou como um estandarte de vergonha. — Está provada a minha inocência! — anunciei, minha voz gelada cortando o ar pesado. — A virgindade que eu, supostamente, teria tomado antes... aqui está. Jamais toquei naquela mulher antes de hoje. A acusação de vocês era uma farsa. O choque congelou o ambiente. Ninguém se moveu. Ninguém respirou. Os Harrington ficaram pálidos. Victoria desviou o olhar, uma mistura de nojo e satisfação em seu rosto. Os outros mafiosos murmuravam, alguns impressionados com a frieza do ato, outros chocados com a crueza da "prova". E no centro daquele silêncio carregado, eu sabia: a guerra estava declarada. E eu não descansaria até ver os três de joelhos. Inclinei-me para mais perto do Sr. Harrington, minha voz um sibilo carregado de uma promessa mortal: —Guardem bem esse lençol. Pois um dia, eu voltarei para me vingar de cada um de vocês. E essa — disse, apontando para a mancha no tecido — será a toalha de mesa do banquete onde eu lhes arrancarei o coração.






