O amanhecer em Santa Aurélia parecia mais frio do que de costume. Um vento cortante atravessava as cortinas abertas do quarto, e Isabel sabia, mesmo antes de ver o bilhete sobre a escrivaninha, que o momento havia chegado.
O e-mail ainda piscava no notebook, repetindo as mesmas palavras:
“Para entender o que herdou, venha para Valdívia — ele precisa de você.”
Ela passara a noite em claro. Parte de si dizia que podia ser uma armadilha, mas o instinto — o mesmo que sempre a alertava quando algo estava errado — gritava mais alto.
Gabriel estava vivo. E em perigo.
Isabel arrumou a mala em silêncio, escolhendo apenas o essencial.
Quando Teresa bateu à porta, ela já vestia o sobretudo claro e segurava o passaporte.
— Filha, o que está acontecendo? — perguntou a mãe, apreensiva. — Você não disse uma palavra desde ontem.
Isabel respirou fundo.
— Eu preciso ir a Valdívia, mãe.
Teresa a encarou, o medo evidente nos olhos.
— Não! Isabel, aquele lugar… o que aconteceu lá não pode se repetir!
— Eu